Foram muitos os milhões acenados por António Costa no encerramento do congresso do PS, no Portimão Arena, acompanhados de música para os ouvidos dos antigos membros da “gerigonça”, a quem mostrou uma preocupação invulgar sobre condições de trabalho dos portugueses, principalmente dos mais precários e de jovens.
Aliás, mais do que mostrar interesse quanto às questões laborais, que têm sido uma das exigências do PCP e do BE que mais têm caído em saco roto desde 2015 junto dos socialistas, o líder do PS prometeu revolucionar determinados setores – comprometendo-se, entre outras medidas, com mais direitos para os trabalhadores das plataformas digitais e para quem depende de empresas de trabalho temporário.
O secretário-geral do PS assumiu que gostaria de ter uma mancha socialista no mapa autárquico, para ajudar a gerir muitos dos milhões de investimento anunciados ao início da tarde deste domingo – principalmente os oriundos da “bazuca” de Bruxelas. Até porque, frisou, não há motivos para que a corrida eleitoral corra mal, tendo em conta que os socialistas não se perdem em questiúnculas internas. “Saímos daqui com uma paz de espírito, mobilizados, determinados, com energia; não para resolvermos os nossos problemas”, atirou.
No início de uma intervenção de quarenta minutos, que teve mais uma vez – como no arranque do congresso ontem – a emoldurá-la a ária “Ninguém dorme”, além da substituição integral da estrutura do congresso do rosa socialista pelo tom vermelho e a mão do PS, Costa começou por piscar o olho à esquerda, com medidas que viria a anunciar mais tarde, reconhecendo que naquela ala que se encontram os parceiros de governação do PS. Ainda que, “às vezes mais conjunta, às vezes menos conjunta”.
Depois acenou que vai haver dinheiro nos próximos temos. E, se “temos meios para investir ninguém nos perdoará se não investirmos”; por isso pediu uma “mobilização das tropas socialistas para as autárquicas, tendo em conta que os órgãos locais, além de “parceiros essenciais na execução do Plano de Recuperação e Resiliência”, terão finalmente concretizadas as competências descentralizadas. Por isso, antes autarcas do PS, do que dos outros partidos: “é absolutamente essencial termos os melhores às frentes às da câmaras das freguesias”.
Combate à pobreza focado em crianças e jovens
Defendendo que a “paixão” de Guterres pela educação, nos idos anos de 1990, está agora a entregar ao país “a geração mais qualificada de sempre”, Costa comprometeu-se em “garantir” para esses jovens adultos melhores condições laborais. Jovens que, assegurou, são o exemplo que “não foram 25 anos perdidos” desde o investimento na formação iniciado com o primeiro Governo de maioria PS. E até os incentivou: “apesar de ser a mais qualificada, esta geração tem de ser mais exigente em relação às suas condições de trabalho”.
Sendo que depois, da boca do secretário-geral do PS, foram saindo palavras sobre direitos laborais e exigências das centrais sindicais, com as quais comprometeu o Executivo: desde mais direitos para trabalhadores das plataformas digitais a um contrato permanente de trabalho para quem está ligado a empresas de subcontratação de pessoal em regime temporário.
Para os jovens que queiram regressar, para os que cá estão – e até aqueles que são trabalhadores independentes, e para quem tem filhos, e passa por dificuldades económicas, ou os quer ter, mas não vê possibilidade de concretizar tal intenção, os cordões à bolsa do Estado vão se abrir, com benefícios no IRS, no valor dado às famílias por cada criança e mais creches.
A descrição dos montantes não se afastou muito do que já tinham sido anunciados no debate do estado da nação, no Parlamento há algumas semanas, mas ditos de forma enfática, aqueles que se destinam às escolas e à formação de adultos, pareceram mais e maiores.
A direita aqui tão perto
Para a corrida autárquica, Costa pediu mobilização total; ainda para mais quando o PSD rumou ao Algarve, no mesmo fim de semana, com o mesmo objetivo de arregimentar forças para tirar os social-democratas de segundo partido autárquico.
A verdade é que o socialista não sinalizou a quem dirigiu as críticas à direita, mas nitidamente eram para o PSD, e para os moldes da sua rentrée, ao afirmar que o PS “é um partido, para irritação de muitos, onde não tem problemas internos”.
“Por isso, podemos nos dedicar àquilo que importa – os problemas do País, das portuguesas e dos portugueses –, que é para isso que servem os partidos políticos”, disse, antes de encerrar um congresso morno, onde a velocidade variou entre a calma e a serenidade ao longo dos dois dias. Para quem não entendeu à primeira o recado final, Costa insistiu: “Saímos daqui com uma paz de espírito, mobilizados, determinados, com energia; não para resolvermos os nossos problemas”.