Vacinação alegadamente indevida, morada declarada ao Parlamento para fins de abonos e subsídios que o Ministério Público considerou ilegal e suspeitas sobre o financiamento ilegal do PS. São três distintas situações em que se veem envolvidos três dos 20 membros do órgão responsável pela condução dos trabalhos do congresso socialista, que arrancou este sábado, em Portimão.
Apesar de a mesa do congresso ter sido notícia nas últimas horas por se terem sentado nela quatro dirigentes que se perfilam como eventuais sucessores de António Costa, cuja entrada foi negociada entre o secretário-geral e o presidente do partido, Carlos César, a verdade é que neste órgão destaca-se o facto de três dos seus elementos terem a Justiça à perna.
O caso mais polémico é o de Isilda Gomes, que se senta na mesa por ser, enquanto autarca socialista de Portimão, a anfitriã do encontro no Arena.
A presidente da Câmara portimonense, e antiga governadora civil de Faro – cargo de qual acabou exonerada porque se candidatou à Assembleia da República nas legislativas de 2011 -, foi constituída arguida por vacinação indevida, por ter recebido duas doses da vacina contra a Covid-19 logo em janeiro, quando prestava voluntariado no hospital de campanha. Por ajudar nas visitas virtuais, entre doentes internados e os familiares destes, Isilda Gomes não tinha contacto com os infetados.
Refira-se que a nora da autarca, Ana Castro, também é arguida pelo mesmo incidente, já que, além de presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Algarve, era quem dirigia o hospital de campanha no Portimão Arena – que agora acolhe o congresso.
Já em junho, Elza Pais, a presidente das Mulheres Socialistas, viu o Parlamento levantar a sua imunidade e ser constituída arguida, devido suspeita de ter declarado durante alguns anos uma alegada morada falsa para poder usufruir abonos e subsídios de residência e deslocação a que os parlamentares têm direito.
Eleita pela primeira em 2009, Elza Pais sempre declarou que vive em Chãs Tavares, em Mangualde – ou seja, a 320 quilómetros da Assembleia da República. Mas como acontecia com outros deputados envolvidos no mesmo caso, a deputada socialista terá casa em Lisboa – com a agravante para o Ministério Público de essa residência distar a cerca de 500 metros do hemiciclo.
Quanto ao terceiro membro da mesa do congresso, já foi arguido num caso, deixou de o ser e agora é suspeito num outro completamente distinto. Paulo Cafôfo, antigo presidente da Câmara do Funchal e atual deputado na Assembleia Regional da Madeira, é suspeito de crimes como corrupção passiva, participação económica em negócio, prevaricação e abuso de poder, como avançou a TVI há quase um ano, quando as autoridades avançaram com buscas. Em causa estariam contratos de contratações públicas das empresas, por ajuste direto, alegadamente com vista a financiar o PS/Madeira.
Um mês depois daquelas buscas, Cafôfo teve motivos para sorrir: deixou de ser arguido no caso da queda de uma árvore na festa do Monte, que matou 13 pessoas, a 15 de agosto de 2017. O antigo autarca tinha sido um dos nomes que, no final de 2019, o Ministério Público queria ver julgados. Esse caso ficou apenas com a então vereadora do Ambiente e o diretor dos parques e jardins municipais a serem acusados de homicídio negligente.