António Costa ainda pôs água na fervura no momento, mas, desde que Marcelo Rebelo de Sousa frisou que o “Presidente nunca é desautorizado pelo primeiro-ministro”, já lá vai um mês e meio de constantes chamadas de atenção – quer na praça pública, quer nos bastidores – do antigo professor catedrático ao seu ex-aluno da Faculdade de Direito de Lisboa. De Belém, e depois daquele episódio em que se percebeu que ambos tinham visões diferentes do processo de desconfinamento no País, vieram críticas ao desenho do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) quanto às verbas destinadas à economia, foram promulgadas leis que o primeiro-ministro recusou acatar de bom grado e, até, questionada uma inexistente explicação pública para o isolamento profilático de António Costa há um mês, apesar de estar vacinado contra a Covid-19.
Parece agora difícil um regresso àquela “lua de mel” institucional, em que Costa segurava um chapéu aberto para proteger Marcelo da chuva no Dia de Portugal, no verão de 2016, ou quando o Presidente da República defendia com garra, na Imprensa lá fora, as políticas de um governo sob escrutínio das instituições internacionais. Contudo, há quem veja as nuvens negras que pairam sobre Belém e São Bento dissiparem-se num período pós-autárquicas, com a possibilidade de se seguir uma eventual remodelação governamental, que dite o afastamento dos ministros que mais têm estado na mira de Marcelo – Eduardo Cabrita e Marta Temido – e o refrescamento em pastas consideradas estratégicas, como a do Planeamento – que vai gerir a “bazuca” de 16,6 milhões de euros.