A 14 de março de 2003, um comprometido Durão Barroso apresentava-se, em Belém, para uma audiência com o Presidente, Jorge Sampaio. Fora ele, então primeiro-ministro, quem, horas antes, solicitara o encontro. Eram nove da manhã, um horário estranho e pouco habitual, que denotava a urgência da reunião. O seu propósito era o de informar o Chefe de Estado que, dois dias depois, seria anfitrião, nos Açores, de uma cimeira entre o Presidente dos EUA, George W. Bush, o primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, e o Presidente do Governo de Espanha, José María Aznar. Objetivo: “Encontrar uma solução pacífica para a crise do Iraque.”
O antigo assessor de imprensa de Sampaio, João Gabriel, 55 anos, relata agora, em livro, o ambiente de tensão vivido nos bastidores de Belém. O seu testemunho corrobora, acrescentando alguns pormenores, os factos posteriormente conhecidos e trazidos à estampa, quer no segundo volume da obra de José Pedro Castanheira Jorge Sampaio, Uma Biografia (Edições Nelson de Matos/Porto Editora), quer em declarações do ex-PR, prestadas muitos anos depois. O que se viveu foi uma surda crise institucional, provocada por uma quebra de confiança entre o primeiro-ministro e o Presidente, algo que, do ponto de vista constitucional, configuraria motivos suficientes para colocar em causa o regular funcionamento das instituições – e teria dado a Sampaio melhores motivos para demitir Durão do que os que encontrou, mais tarde, para se desfazer de Pedro Santana Lopes.