É preciso alguém ter muito sangue-frio para pertencer a um grupo que desvia um avião comercial e, em pleno sequestro, sentar-se num banco da aeronave e dormir um pouco. Foi o que fez, há 60 anos, Camilo Mortágua, quando integrou um comando de seis portugueses (cinco homens e uma mulher) que, a 10 de novembro de 1961, armados de pistolas, tomaram de assalto o Super-Constellation Mouzinho de Albuquerque, que efetuava a carreira da TAP Casablanca-Lisboa, naquele que é considerado o primeiro desvio, por motivos políticos, da história da aviação comercial.
Numa ousada ação pensada pelo capitão Henrique Galvão, inimigo jurado do ditador Oliveira Salazar, tudo acabou por correr bem ao pai das irmãs gémeas e destacadas dirigentes do Bloco de Esquerda, Mariana e Joana Mortágua, e aos cinco companheiros. Tal como os assaltantes pretendiam, foram lançados sobre a capital, a Margem Sul e as cidades de Beja e Faro cem mil panfletos anti-Estado Novo, que iam dissimulados em sete malas, através de arriscadíssimas manobras do aparelho, que trazia 19 passageiros, quase todos estrangeiros (americanos, italianos, franceses, ingleses), e uma tripulação de sete pessoas, e que chegou a voar a escassos 400 metros do solo.