Depois de uma longa noite eleitoral, a manhã traz os detalhes dos resultados e os casos surpreendentes. Se o momento for mesmo de viragem política, talvez uma equipa de reportagem meta os pés ao caminho. Em outubro de 2017, na manhã a seguir às últimas autárquicas, um dos focos noticiosos é Almada – o município a sul do Tejo com vista para Lisboa que deixa de ser comunista, 43 anos depois do 25 de Abril. E a protagonista deste plot twist, eleita pelo PS, é Inês de Medeiros. Até então fora mais associada ao cinema do que à política; embora já tenha chegado a Almada calejada pelo “batismo de fogo” no Parlamento, em 2009, quando se viu engolida pelo “caso das viagens a Paris”. À data, Inês de Medeiros tinha a sua morada oficial na capital francesa, onde vivia com o marido, Fabrice Patellière, e os dois filhos, e recebia da Assembleia da República despesas de deslocação Lisboa-Paris, autorizadas pelo conselho de administração do Parlamento, sob forte contestação do PSD e do BE.
A política “não era um lugar longínquo” para a então deputada, que diz à VISÃO ser “uma criança do 25 de Abril”, que cresceu “a olhar, a sentir e a ouvir os adultos a discutirem política”. Em casa dos pais, a jornalista Maria Armanda Esteves e o maestro António Victorino de Almeida, ela e a irmã, a atriz Maria de Medeiros, estavam habituadas a conviver com figuras políticas muito diversas, desde a família Portas a um primo direito do pai, Rui Patrício, que havia sido ministro dos Negócios Estrangeiros de Marcello Caetano. Mesmo assim – e embora tenha estado envolvida como mandatária da juventude na primeira campanha à Presidência da República de Jorge Sampaio, em 1995 –, só depois de se revelar como atriz e realizadora assumiu que o seu percurso também passaria pela política. Primeiro como mandatária de Vital Moreira nas europeias de 2009 e a seguir como candidata às legislativas, do mesmo ano, por Lisboa, a convite de José Sócrates.