Saíram juntos do Palácio de São Bento, trocaram algumas palavras, um ou outro sorriso tenso e despediram-se com um aceno. Ao fim de três horas de reunião, que o gabinete do primeiro-ministro classificou como tendo sido de “trabalho”, António Costa e Mário Centeno chegam a acordo: o ministro das Finanças fica, mas a prazo.
Junho é o fim da linha para o ministro das Finanças. Foi o calendário definido entre os dois governantes, ainda que não conste do comunicado divulgado pelo gabinete do primeiro-ministro, no final da reunião. No documento, diz-se que a reunião aconteceu “no quadro da preparação da reunião do eurogrupo” da próxima sexta feira e também que o encontro serviu para alinhavar os termos do orçamento retificativo que o Governo pretende apresentar em junho na Assembleia da República.
Mas o mais relevante do documento é o que vem nas linhas seguintes. Ali, diz-se que durante a reunião ficaram “esclarecidas as questões relativas à falha de comunicação” no âmbito do dossier do Novo Banco e da injeção de 850 milhões de euros na instituição – um caso que tinha levado Marcelo a defender a posição de António Costa, que apenas admitia novas injeções mediante a apresentação prévia de uma auditoria às contas do banco. Esse ponto foi, aliás, central para a ideia de Centeno a São Bento, com um pedido de demissão na pasta.
Ora, o comunicado também diz que as contas do banco “foram auditadas previamente à concessão deste empréstimo” – apenas porque já estava em curso uma auditoria quando, a 6 de junho, as Finanças autorizaram a transferência, ainda que não se conhecesse o resultado desse análise. Mas refere-se, também, que a transferência que suscitou a polémica “já estava prevista no Orçamento do Estado para 2020”. Ou seja, fica claro que, como o próprio tinha defendido, Mário Centeno não agiu “à revelia” nem do Conselho de Ministros nem da Assembleia da República.