Renovar sem revolucionar. É essa a máxima adotada por Rui Rio para fechar o seu núcleo duro para o mandato 2020-2022. Na antecâmara do 38º Congresso Nacional do PSD, que arranca esta sexta-feira, em Viana do Castelo, é garantido que o presidende social-democrata operará algumas mudanças, mas não se espere por nada drástico. Como a VISÃO escreveu na edição desta semana, que chegou às bancas na quinta-feira, a maior novidade, tida como incontornável por fontes próximas do líder, será Joaquim Miranda Sarmento.
O Mário Centeno de Rio – foi o próprio Rio a batizá-lo num debate com António Costa – é considerado pela direção um quadro “brilhante” e “um dos maiores ativos” do partido e deverá ser promovido a vice-presidente. O convite ao ministro-sombra ainda não aconteceu, mas, como é apanágio do presidente do PSD, deve estar guardado para o conclave (e será sempre feito em absoluto sigilo). Pequena curiosidade: o economista, porta-voz do Conselho Estratégico Nacional (CEN) para a área das Finanças Públicas e um dos responsáveis pelo programa económico levado a votos em outubro nem sequer é delegado ao congresso, mas vai marcar presença na qualidade de observador.
Além disso, o calendário do próprio ajuda: concluiu há pouco as provas de agregação no Instituto Superior de Economia e Gestão, onde dá aulas. O tempo favorece a sua própria ascensão. Em todo o caso, há outra figura que pode “concorrer” com Miranda Sarmento por esse lugar. André Coelho Lima já é vogal na Comissão Política Nacional, mas, estando quase gorada a chance de ser líder parlamentar (que será entregue a Adão Silva), a promoção a vice-presidente poderia funcionar como recompensa pela lealdade a Rio e pelo trabalho na recente contenda, em que fora mandatário da candidatura do líder no distrito de Braga.
Em sentido contrário, isto é, na primeira fila da remodelação, conforme o Expresso tinha antecipado, estarão Elina Fraga e Isabel Meirelles. De surpresas na reunião magna de há dois anos, em Lisboa, tanto a ex-bastonária da Ordem dos Advogados (que fez a vida negra a Paula Teixeira da Cruz, no consulado de Pedro Passos Coelho) como a deputada e candidata do PSD à Câmara Municipal de Oeiras em 2009 passaram a flops para a generalidade dos militantes. O balanço, afirma quem acompanhou o trabalho de ambas na condução política do partido, “não é muito positivo”, daí que estejam numa “posição mais frágil” e sejam vistas por Rio como menos necessárias para um ciclo com autárquicas em 2021 e em que alguns, mais céticos sobre a estabilidade da geringonça 2.0, não excluem que possa haver legislativas.
As mexidas na Comissão Permanente, na qual têm assento o presidente, os seis vices, o secretário-geral e o líder parlamentar, não devem esgotar-se aí. José Manuel Bolieiro, que substituiu Manuel Castro Almeida, também estará com um pé fora. Não só por ir a votos nos Açores, em outubro, mas sobretudo, porque, sendo líder do PSD na região autónoma, tem lugar por inerência na Comissão Política Nacional (CPN). Assim, blindados só estarão mesmo os vice-presidentes David Justino e Salvador Malheiro e o secretário-geral, José Silvano.
Diferente é a situação de Nuno Morais Sarmento. Durante o primeiro mandato de Rio, foi inconstante – chegou a ser aventado que as escolhas do líder no congresso não lhe agradaram –, mas acabou como o “bombeiro” da direção. Terá sido ele a gizar a tática que travou o “golpe de Estado” de janeiro do ano passado, com a apresentação da moção de confiança no Conselho Nacional. Foi ainda o ex-ministro da Presidência de Durão Barroso e de Pedro Santana Lopes a sair em defesa pública do líder na ressaca das legislativas, sugerindo que as disputas internas no partido parecem “a gaiola das malucas”.
Esta semana, em entrevista ao Diário de Notícias e à TSF, foi Morais Sarmento o porta-voz para o tema quente deste Orçamento do Estado, a redução do IVA da eletricidade. Mais para dentro, foi também o ex-governante a conter os efeitos da aparição recente de Pedro Passos Coelho em Ponte da Barca. “Uma coisa são os saudosistas, outra coisa é ele. Que Pedro Passos Coelho queira, neste momento, marcar politicamente? Não, francamente não. Pedro Passos Coelho é suficientemente direto e claro, conhecemo-lo todos. Conhecemos todos as circunstâncias da sua vida o suficiente para não estarmos a dizer isso”, observou. Rio reconhece-lhe a leitura e o rasgo políticos, e estará mais nas mãos do próprio do que nas do líder renovar o mandato. Simplificando: se quiser, Sarmento fica.