No despacho que proferiu esta segunda-feira, 9, em que pronuncia para julgamento os 19 arguidos do processo dos Comandos, a juíza de instrução criminal Isabel Sesifredo faz uma descrição dramática do ambiente no posto médico do curso 127 daquela força especial, a 4 de setembro de 2016, quando 67 instruendos, sob temperaturas crematórias, eram submetidos à dura “Prova Zero”, na sequência da qual, aliás, os recrutas Hugo Abreu e Dylan da Silva viriam a morrer. Lê-se no documento, a que a VISÃO teve acesso, que o “diretor da prova foi obrigado a interromper as instruções da ‘Prova Zero'”, às 16 e 20 daquele dia, uma vez que, “apesar da insistência dos oficiais, os formandos que ainda não se encontravam incapacitados e a soro, já não tinham condições físicas e psíquicas para executarem qualquer exercício físico”.
Essa interrupção, escreve a juíza de instrução criminal Isabel Sesifredo, “deveu-se à situação de catástrofe humanitária que se vivia no Campo de Tiro de Alcochete, em consequência da privação do consumo de água, do calor intenso que se fez sentir e da elevada carga física dos exercícios, o que era do conhecimento de todos os oficiais instrutores, diretor da prova, comandante de companhia e médico”.
A magistrada pronunciou os 19 arguidos, oficiais e sargentos, por 539 crimes de abuso de autoridade por ofensa à integridade física (em graus diferentes), que o Código de Justiça Militar pune com prisão de oito a 16 anos. Estando o processo, em definitivo, colocado no plano do “crime estritamente militar”, o coletivo de julgamento será constituído por dois juízes civis e um oficial das Forças Armadas.