Afinal, Mário Centeno não pediu apenas bilhetes para assistir ao Benfica-FC Porto. Antes da solicitação para o clássico, o ministro das Finanças já tinha pedido ao clube da Luz ingressos para o Benfica-Nápoles, jogo da Liga dos Campeões, disputado a 6 de dezembro de 2016.
A 28 de novembro desse ano, Orlando Dias, secretário do presidente Luís Filipe Vieira, informou por e-mail Ana Paula Godinho, responsável de Protocolo, Direção, Inovação e Desenvolvimento de Negócio do Benfica, que a secretária de Mário Centeno tinha telefonado para dizer que o ministro desejava “ver o Benfica-Nápoles mais o filho que tem 15 anos de idade”.
Mário Centeno foi fotografado nesse jogo na bancada presidencial do Estádio da Luz ao lado de Luís Filipe Vieira, do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, e do selecionador nacional, Fernando Santos.
Confrontado com o contéudo destes e-mails a que a VISÃO teve acesso, o gabinete de Centeno utilizou o mesmo argumentário que tinha usado em relação aos pedidos de bilhetes para o Benfica-FC Porto: “A notoriedade pública do Ministro das Finanças coloca exigências à sua participação em eventos públicos, como jogos de futebol, no que concerne a garantir a sua segurança pessoal. Neste sentido o Gabinete do Ministro das Finanças entende que a presença do Ministro, enquanto adepto do SL Benfica, deve ser avaliada em função das condições de segurança e grau de risco classificado em cada evento desportivo.”
O Benfica-Nápoles, referente à sexta e última jornada da fase de grupos da liga milionária, terminou com a derrota por 1-2 das águias, resultado que, ainda assim, foi suficiente para assegurar o apuramento do emblema português para os oitavos de final da competição, uma vez que, no mesmo dia, o Dínamo de Kiev venceu o Besiktas por 6-0.
A 1 de abril de 2017, Centeno também tinha estado na bancada presidencial da Luz, com o filho, para assistir ao Benfica-FC Porto. Nessa altura, segundo noticiou o Observador, o pedido foi feito através do assessor diplomático do ministro das Finanças, André Costa Monteiro, a meio do mês de março.
Quando a informação veio a público, o gabinete de Centeno confirmou o pedido, mas alegou que este ficou a dever-se a questões de “segurança”. “A notoriedade pública do ministro das Finanças coloca exigências à sua participação em eventos públicos como jogos de futebol no que concerne a garantir a sua segurança pessoal”, respondeu fonte oficial das Finanças.
O pedido de Costa Monteiro incluía ainda outro interveniente: Álvaro Novo, que acabara de tomar posse como secretário de Estado do Tesouro. Nesse caso, o assessor diplomático de Centeno questionava se seria possível reservar três bilhetes em qualquer bancada, para serem usufruídos por membros da equipa, entre os quais o próprio governante. Esses lugares, ao contrário do que aconteceria com os que seriam reservados para o ministro e para o filho, seriam naturalmente pagos – ao passo que os da bancada presidencial, por sua vez, são atribuídos somente por convite (não tendo por isso um valor específico associado).
Ainda antes das notícias sobre os pedidos de Centeno para o jogo Benfica-Porto, tinha sido noticiado que teria sido concedida uma isenção de Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) a uma empresa ligada aos filhos de Luís Filipe Vieira. A Sábado revelou uma troca de e-mails entre Tiago Vieira (filho do presidente do clube) e o líder dos encarnados sobre um pedido da Realitatis – Investimentos Imobiliários, S.A. – empresa de compra e venda de imobiliário, presidida por Sara Vieira, filha de Luís Filipe Vieira – junto da Câmara Municipal de Lisboa. A sociedade precisava que a autarquia lisboeta reconhecesse a isenção de pagamento de IMI sobre aquele imóvel, o que só veio a acontecer na data em que Tiago Vieira mandou o e-mail ao pai e uma semana depois de Mário Centeno ter pedido bilhetes para ver o Benfica-Porto.
O Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa abriu um inquérito e o Ministério das Finanças foi alvo de buscas por suspeitas de que Centeno tivesse cometido um crime de recebimento indevido de vantagem. Mas em poucos dias o inquérito foi arquivado: “Realizado o inquérito, recolhida a prova documental e pessoal necessária ao apuramento dos factos, o MP concluiu pela não verificação do crime de obtenção de vantagem indevida ou qualquer outro.”