“Os bomberos são uns hérouís”. Num português bastante percetível mas carregado de sotaque britânico, Margaret Dampier, 63 anos, insiste várias vezes para que não nos esqueçamos de deixar registado a valentia e abnegação dos soldados da paz que por estes dias se concentraram no combate ao fogo de Pedrógão Grande. E nem foi por ter visto a casa, em Pereira, no lugar da Graça, quase intocada pelas chamas, porque isso até foi mais um acaso da sorte.
Na companhia do marido, Graham Dampier, três anos mais novo, passaram a manhã de segunda-feira a percorrer as aldeias vizinhas para registar o estado em que ficaram as habitações dos vários amigos ingleses que têm a morar na região.
“Estivemos agora em casa de um casal amigo que fugiu quando as chamas se começaram a aproximar e aquilo ficou tudo destruído”, explica Graham enquanto saca da máquina fotográfica para que pudéssemos comprovar o que dizia. “Está a ver, a casa ardeu mas a caravana que está ao lado, mesmo debaixo das árvores, ficou intacta”, diz sem esconder o espanto.
Construtor civil já reformado, ele, e ela tradutora de inglês-espanhol, Graham e Margaret, naturais de Winchester, apaixonaram-se por Portugal, especificamente pela zona centro e vieram de armas e bagagens há dez anos para cá viver.
“O Algarve não, nem pensar”, atira de pronto ela. “Queríamos uma área tranquila e encontramos isso aqui. Além disso ainda temos aqui excelentes cuidados de saúde. E eu posso comprová-lo porque estive internada recentemente no hospital de Coimbra e fui tratada de forma incrível. Estou muito grata a toda a gente”, revela Margaret, com um sorriso que só se fecha quando recorda os momentos de pânico que vivera no final da tarde de sábado e pela tragédia que vai encontrando pelo caminho.
“Tudo era vermelho. O vento parecia um furacão. Lembro-me de ver a fruta a cair das árvores que ardiam e, principalmente, que foi mesmo o pior para mim, do barulho do fogo que o vento trazia cada vez mais depressa. Era alto, muito, muito alto. Tão depressa não vou esquecer esse barulho”.