O panorama é o mesmo em todo o mundo: o número de nascimentos está em queda em quase todas as paragens. Mas em Portugal, a fecundidade atingiu valores muito baixos: 1,23 filhos por mulher, em média. “A partir de 2011, com a crise, a situação agudizou-se”, nota Maria Filomena Mendes, demógrafa e professora da Universidade de Évora. A verdade é que os portugueses gostariam de ter mais filhos, como mostra o inquérito à fecundidade realizado em 2013 pelo Instituto Nacional de Estatística e pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Nesse estudo, a fecundidade final esperada era de 1,8 filhos.
Maria Filomena Mendes nota que as questões da habitação, a perceção sobre a economia e as condições de saúde são decisivas quando se planeia o primeiro filho. “E quando se pensa ter um segundo filho, é essencial a disponibilidade do pai para ajudar nas tarefas domésticas”, nota a demógrafa.
Por termos uma população muito idosa e um baixo número de nascimentos, o saldo natural tem sido negativo. “Essa é uma das razões para a diminuição da população”, nota Maria Filomena Mendes. Mas não é a única. Com cerca de 160 mil saídas em 2013 (não compensadas pela entrada de imigrantes), sobretudo de jovens nas idades mais férteis, a emigração reduziu a população e afetou a natalidade.
Mais misterioso é o elevado número de divórcios: em Portugal, por cada 10 casamentos há 70 separações. Para a demógrafa, a explicação pode estar relacionada com a queda do número de casamentos. Ou seja, muitos dos divórcios podem dizer respeito a uniões celebradas há vários anos, que agora se dissolvem numa altura em que o casamento perdeu importância para legitimar as uniões. Mas fica a pergunta: se o mesmo acontece um pouco por toda a Europa, por que razão é o índice tão elevado em Portugal?