Há quase um mês que o PSD enviou para António Costa três dezenas de perguntas sobre a “situação e intenções do Governo relativamente à Caixa Geral de Depósitos”. Os social-democratas querem saber o que justifica um alegado esforço de quatro mil milhões de euros dos contribuintes para capitalizar obanco público e “qual o ponto de situação das negociações com as instituições europeias” relativamente “à capitalizçaão e restruturação da CGD”,be, como o impato das medidas na contas públicas.
Mas António Costa – que viu esta semana o seu ministro das Finanças colocar achas na fogueira da CGD dizendo que o banco tem um “desvio enormíssimo” no valor de três mil milhões de euros – recusa-se a esclarecer o PSD, por considerar que “é extemporâneo comentar especulações mediáticas e, consequentemente, condicionar a capacidade negocial do acionista”, ou seja, da Caixa.
Na resposta enviada ao Parlamento, a que a VISÃO teve acesso, o gabinete do primeiro-ministro reitera que “se encontra em curso um processo negocial envolvendo a Comissão Europeia e o Estado Português (na qualidade de acionista único da Caixa Geral de Depósitos)” para cumprir as obrigações “regulatórias” a que o banco público está vinculado, “nomeadamente relativos à recapitalização”.
António Costa remete mesmo para os esclarecimentos que já foram “apresentados publicamente” pelo ministro das Finanças, nas “múltiplas intervenções na Assembleia da República” e usa-os para explicar que quando for “oportuno e alinhado com a melhor defesa do interesse público”, será o próprio primeiro-ministro a complementar essa informação.
Para já, às 30 perguntas do PSD, António Costa responde com zero esclarecimentos.
E restam as denúncias de Mário Centeno na comissão parlamentar de Economia e Finanças esta semana, que serviram para incendiar ainda mais o ambiente entre PS e PSD. “Há um desvio enormíssimo do plano de negócios e de reestruturação que atinge verbas superiores a 3 mil milhões de euros”, garantiu. Uma frase que foi rastilho para muitas especulações mediáticas, para usar a expressão do próprio António Costa na carta enviada ao PSD. António Leitão Amaro, do lado da bancada social-democrata veio acusar o Governo de “aumentar a incerteza e a insegurança” em relação à CGD. E o Jornal de Negócios veio explicar que a principal razão daquele “desvio enormíssimo” não era, afinal, um buraco efetivo nas contas, mas sim fruto da queda das taxas de juro na Zona Euro desde o último aumento de capital da Caixa Geral de Depósitos, em Junho de 2012.
Enquanto o primeiro-ministro não cede a comentar a “especulação mediática”, aguarda-se pelo arranque das audições na comissão de inquérito à CGD, que prometem incendiar ainda bastante o ambiente entre partidos.