A lista oficial dos clientes que terão beneficiado de créditos do Banco Espírito Santo Angola (BESA), quando a instituição era liderada por Álvaro Sobrinho, e no total de 5700 milhões de dólares, nunca foi divulgada. Mas por Angola já circula uma lista com nomes de alguns destes alegados clientes e não é confortável para a cúpula do regime angolano, já que envolve nomes de altas figuras do regime e também do MPLA.
João Manuel Gonçalves Lourenço, ministro da Defesa e antigo secretário-geral do MPLA, é um dos nomes da alegada lista como tendo beneficiado de um crédito do BESA de 30 milhões de dólares. Também Manuel Nunes Júnior, secretário do MPLA para a Política Económica e Social, é visado como tendo recebido um crédito de 20 milhões de dólares. Roberto de Almeida, vice-presidente do partido, também não escapa: terá, de acordo com as informações que circulam por sites angolanos, recebido 30 milhões de dólares, tendo aplicado 10 milhões na construção de um edifício. Escreve-se também que quando foi chamado a pagar o empréstimo terá alegado que julgava que o crédito fosse uma “oferta”.
Também há portugueses nessa lista, entre eles José Guilherme, o empresário da construção civil que terá dado um presente de 14 milhões a Ricardo Salgado. Diz-se em Angola que em parceria com a empresária Marta dos Santos, irmã do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, o construtor terá recebido cerca de 800 milhões de dólares do BESA, que terão sido aplicados na construção de edifícios em Talatona, zona nobre de Luanda.
Na carta enviada à comissão de inquérito do BES/GES, José Guilherme assumiu apenas ter sido cliente do BESA e continuar a ser cliente do Banco Económico (que resultou da reestruturação do BESA), tendo nesse contexto obtido vários financiamentos do BESA. “Todos os financiamentos concedidos através de pedidos meus foram cumpridos”, disse o construtor, sem especificar montantes. O empresário revelou apenas o montante de uma dívida, a que tinha para com o BES: era de 121 milhões de euros.
Álvaro Sobrinho, presidente do banco angolano até 2012, também é citado na alegada lista. Teria atribuído a si próprio créditos de 745 milhões.
Recorde-se que a descoberta desta lista de créditos (de difícil cumprimento) levou Ricardo Salgado a encetar conversações com o Presidente da República de Angola, no final de 2013. Em Janeiro de 2014, o governo angolano concederia uma garantia soberana de mais de 5 mil milhões ao BESA, destinada a cobrir os créditos concedidos. Essa garantia acabaria por não ser dada, na sequência da resolução do BES no Verão de 2014 e na sequência de ter sido incluída nos ativos do banco mau. Rui Guerra, último presidente do BESA, admitiu que os incumprimentos no crédito fossem da ordem dos 2 a 3 mil milhões de dólares, mas escusou-se a revelar os nomes dos beneficiários últimos dos créditos, com o argumento de que não podia violar o sigilo bancário angolano.
Rui Guerra estava presente na assembleia-geral de Outubro de 2013 em que Álvaro Sobrinho foi pressionado depois de se terem identificado créditos de alto risco concedidos sem qualquer garantia. A ata dessa reunião seria divulgada pelo “Expresso”.
Até à data, tinham sido apenas divulgados, na comissão de inquérito do BES/GES, os nomes de algumas empresas que terão beneficiado dos créditos, faltando saber, nalguns casos, quem eram os reais beneficiários. Foram mencionados, entre outros, os nomes da Escom (a empresa do GES que interveio no negócio dos submarinos), da Vaningo e da Nazaki Oil and Gas (que tem como acionistas Manuel Vicente e Kopelipa).