PS e Bloco de Esquerda juntaram as suas vozes para condenar as penas aplicadas pelo Governo de Luanda aos 17 ativistas angolanos, em que se inclui o luso-angolano. Mas, na hora de votação, fica para a história não só a rejeição do Parlamento português às duas iniciativas -, com os votos contra de PSD, CDS e PCP -, mas também as sucessivas declarações de voto que se foram multiplicando pelas várias bancadas no fim da votação.
Luaty Beirão é um tema sensível para a política portuguesa. E no seio da “geringonça” que sustenta o Governo na Assembleia, as divisões hoje manifestadas pela votação das duas propostas demonstram bem as discrepâncias sobre este assunto.
O projecto do PS, concertado com António Costa, lamentava apenas a situação e mantinha a “esperança” de o processo vir a ser “reconsiderado”. Mereceu o chumbo de PSD, CDS e PCP, mas o voto a favor das restantes bancadas.
Já o duro voto do Bloco de Esquerda, que falava em detenção ilegal ou “direitos restringidos” e dizia que “nenhuma lógica pode justificar o silêncio dos democratas sobre violações de direitos humanos básicos como o que se registou com esta punição dos ativistas angolanos”, não foi totalmente aceite pelos socialistas. E foi na hora de votar pela “libertação dos ativistas detidos” que a bancada do PS se dividiu. A maioria seguiu a indicação de voto da direção e absteve-se. Mas nomes como Isabel Moreira, Porfírio Silva (responsável do partido pelas relações internacionais) ou Edite Estrela votaram a favor.
Quando tudo já parecia terminado, Sérgio Sousa Pinto, presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros pediu a palavra ao presidente Ferro Rodrigues e lamentou que os votos não tivessem baixado àquela comissão, onde “certamente seria possível encontrar uma posição comum”. Ferro ainda o tentou interromper, mas Sousa Pinto insistiu para acrescentar que o “diálogo e o compromisso” prevalecem naquela comissão.
Também o PCP apresntou uma declaração de voto para justificar o chumbo: “O PCP não acompanha campanhas que, procurando envolver cidadãos angolanos em nome de uma legítima intervenção cívica e política, visam efetivamente pôr em causa o normal funcionamento das instituições angolanas e destabilizar de novo a República de Angola”.
Luaty Beirão é a face mais visível do desconforto que o tema Angola suscita entre os partidos e os políticos portugueses