Segundo Rui Lourenço, especialista em estratégia digital, os candidatos presidenciais, em pleno século das tecnologias, não têm sabido, até ao momento, utilizar as redes sociais de forma inteligente, esclarecedora e eficaz: “Usam-nas como um mero instrumento de replicação daquilo que tem sido a sua atividade pública”. Fazem apenas “o óbvio, o previsível»: as fotografias das suas visitas, os vídeos dos debates em que participaram… Nenhum parece interessado em ir mais além, dominando todas as potencialidades de um canal, como o Facebook, que alcança em Portugal cerca de 6 milhões de utilizadores. Por outro lado, continua, mesmo que criem páginas oficiais, não apostam na interacção, “nem um simples ‘gosto’ a um comentário nas suas páginas”. Ou seja, “comunicam apenas numa via”.
Para o especialista, que já prestou no passado assessoria a outras candidaturas, “estamos perante uma das últimas gerações de políticos info-excluídos”. Não existe, defende, falta de consciência da utilidade do marketing político nestas redes, mas antes «falta de coragem e de conhecimento”: “Os assessores de comunicação política tradicionais olham, em muitos casos, para as redes com desconfiança, é algo que não dominam”. Mas a tendência é outra, “as novas gerações, que usam as redes sociais como algo natural, não vão encher comícios e a importância do on line na política será cada vez maior”.
Lourenço dá como exemplo de boas práticas na internet as páginas dos principais candidatos à presidência dos EUA, “pensadas com extremo cuidado estratégico”. Em Portugal, a estratégia parece limitar-se à ocupação de um espaço. “Basta pensar em alguns dos comentários de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI, por exemplo, para perceber o medo e o desconhecimento das redes sociais por parte do candidato, criticando inclusive os políticos que as usam”.
A experiência de António Costa, que em setembro, durante hora e meia, se manteve em live streaming para responder a 37 perguntas de utilizadores do Facebook, parece não ter gerado grande interesse nestes candidatos. Pelo menos, nenhum diálogo virtual está agendado para os próximos 15 dias de campanha.
Numa altura em que a maior parte das dez candidaturas está sem apoio das máquinas partidárias, e em que muitas se queixam de discriminação por parte dos órgãos de comunicação tradicionais, não se compreende este desinvestimento online. O argumento financeiro não é desculpa, garante Lourenço: “uma campanha de redes socais bem feita e com conteúdos pensados propositadamente e com qualidade, pode custar menos do que algumas dezenas de outdoors”.
O problema parece residir justamente aqui, na falta de pensamento estratégico e na criação de conteúdos específicos para as páginas ou sites. “Em Portugal, tudo parece ser feito na véspera das campanhas, e os sites são apagados logo a seguir ao ato eleitoral”. Não destaca nenhum candidato pela positiva nem pela negativa, “no que toca à campanha on line são todos candidatos ‘nim’”. É necessário uma estratégia concertada e pensada de raiz: “Para ser um Obama digital não basta querer, vão ter de saber trabalhar para isso”.