Nasceram em Fânzeres, Gondomar, na mesma Rua do Valado. A 27 de março do ano passado, Cristina Ferreira, da agência de publicidade Webrand, não faltou ao funeral do pai de Marco António, no cemitério da freguesia.
“Vieram muitos carros pretos, de vidros fumados, coisa nunca vista na terra. Até a mulher do primeiro-ministro cá esteve”, conta quem assistiu às cerimónias. Marco e Cristina não tinham porque disfarçar a proximidade, extensiva às famílias. Quando, meses depois, a VISÃO publicou reportagens sobre as investigações das Finanças e da Procuradoria ao universo de sociedades de Cristina por causa de fraudes fiscais, campanhas eleitorais para o PSD e contratos em autarquias, o caso mudou de figura: Marco não respondeu às perguntas sobre a relação com a empresária e esta fez o mesmo. Apenas Agostinho Branquinho admitiu conhecê-la há bastante tempo, de outras lides eleitorais.
A prova de que a proximidade é grande está em correspondência eletrónica, a que a VISÃO teve acesso, envolvendo vários dirigentes do partido. Nas campanhas internas de Luís Filipe Menezes e de Marco António, passando pelas europeias, legislativas e autárquicas de 2009 coordenadas por Branquinho Cristina foi de “confiança”. Nos emails, a empresária trata Marco por “tu”. E mesmo quando é para reclamar pagamentos a Virgílio Macedo, atual líder do PSD/Porto, partilhar intrigas com o ex-deputado Adriano Rafael Moreira ou enviar faturas a um ex-administrador da Gaianima, já falecido, Marco é omnipresente. “Este processo está comigo, há (SIC) espera de quem vamos faturar “, lê-se num email de Cristina sobre a encomenda de 8900 cartas e envelopes para a candidatura de Marco à distrital do PSD em 2009. “Segue carta do Marco António Costa”, lê-se, “era necessário dar-lhe um arranjo gráfico. Precisamos tb de envelopes que tenham o nome dele na parte superior esquerdo”. Até detalhes de um jantar na Trofa, no âmbito da candidatura de Menezes à liderança do PSD, em 2007, são partilhados com Marco via email do então vice-presidente de Gaia.
Tudo se mistura…
Nos contactos e nos negócios tudo se mistura.
As sociedades de Cristina, Granfinvest no passado, hoje Webrand trabalham para o PSD, empresas municipais e autarquias.
Misturam-se também dirigentes políticos, assessores e administradores, endereços eletrónicos oficiais e pessoais. Do partido, Câmara de Gaia, Gaianima e outras empresas municipais do concelho, Cristina recebe emails para tratar de assuntos do PSD e da autarquia: encomendas, faturas, orçamentos de campanha para diversos concelhos e cópias de extratos bancários.
“A pedido do Dr. Marco António Costa junto envio, em anexo, as cartas para os militantes e autarcas”, escreve Daniela, atual mulher de Marco, a partir do endereço da Gaianima, em setembro de 2007.
“Como estamos com o assunto do cliente que deram indicação para se emitirem faturas??? “, indigna-se Cristina, num email enviado ao tal administrador da Gaianima, à época também dirigente da distrital. “Sobre a candidatura de Matosinhos mais uma vez te pergunto qual a data prevista para a sua liquidação. Construtor até à data nada.”, lê-se em mais um email de 2010 enviado do endereço de Cristina para aquela empresa municipal. “Estão aprovadas 700 bandeiras com a impressão frente e verso. Este trabalho tem que ser entregue na Gaianima”, escreve-se num email intitulado “orçamento bandeira PSD”.
Quando o dinheiro demora, Cristina “dispara” em todas as direções. As reações, por vezes, vêm com notas de humor: “Sei que eles receberam na semana passada dinheiro de quotas”, lê-se numa resposta enviada do correio eletrónico de Virgílio Macedo a propósito de pagamentos em atraso do PSD Lisboa. “Para semana ligo com o nosso amigo, mas tente ligar com ele antes que gastem o dinheiro”, sugere-se na mensagem saída do email do atual deputado e líder do PSD/Porto.