“O sistema vive da cobardia dos políticos, da cumplicidade de alguns jornalistas, do cinismo dos professores de Direito e do desprezo que as pessoas decentes têm por tudo isto”, escreve José Sócrates, na carta de três páginas, escrita a vermelho, que fez chegar ao Diário de Notícias na quarta-feira, dia em que o Supremo Tribunal de Justiça recusou o pedido de habeas corpus entregue na semana passada.
“Prende-se para melhor investigar, prende-se para humilhar, para vergar. Prende-se para extorquir, sabe-se lá que informação. Prende-se para limitar a defesa: sim, porque esta pode perturbar o inquérito”, acusa ainda o ex-primeiro-ministro, acrescentando que em Portugal prende-se principalmente para “despersonalizar”. “Não, já não és um cidadão face às instituições, és um “recluso” que enfrenta as “autoridades”: a tua palavra já não vale o mesmo que a nossa. Mais do que tudo – prende-se para calar”, lê-se.
Na carta, José Sócrates apontou também o dedo a “alguns jornalistas”, que acusou de serem “pagos com elogios”.
“Nem precisam de falar – os jornalistas (alguns) fazem o trabalho para eles. Toma lá informação, paga-me com elogios. Dizem-lhes que é crime conhecerem, eles compensam-nos com encómios: magnífico juiz, prestigiado procurador; polícia dedicado e competente”, salientou.
A terminar, o ex-líder socialista questiona o controlo dos magistrados. “Quem nos guarda dos guardas? Silêncio. ‘As instituições estão a funcionar”, concluiu.
Sócrates está indiciado dos crimes de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada num processo que envolve outros arguidos, incluindo o empresário e seu amigo de longa data Carlos Santos Silva, também em prisão preventiva.
O inquérito está alegadamente relacionado com ocultação de património e com diversas transacções financeiras, mas a defesa alega que os investigadores ainda não avançaram com quaisquer indícios relativos ao crime de corrupção, designadamente se é corrupção passiva e se envolve ato lícito ou ilícito.
Sócrates está detido no Estabelecimento Prisional de Évora, onde já recebeu visitas de destacadas figuras do PS, incluindo do antigo Presidente da República Mário Soares.