1. Se tomar posse como presidente da Câmara, qual será o problema da cidade a que dará prioridade?.
Rui Moreira – Coesão social. Instituir e ativar o Fundo Municipal de Solidariedade, dotado de 2 milhões de euros/ano, para acudir, de imediato, às carências daqueles que mais precisam e que não podem continuar à espera da intervenção de organismos oficias, que muitas vezes pecam pelo excesso de burocracia. Este Fundo vai acudir a casos de carência evidente, através do fornecimento de refeições, de medicamentos e de produtos de higiene pessoal.
Manuel Pizarro – A situação social dramática em que se encontram tantas pessoas, vítimas de pobreza extrema e atiradas para as margens de uma existência com dignidade. O Porto solidário tem que encontrar, num esforço de colaboração entre o município e as instituições da sociedade, solução para esta realidade, em especial para os que estão sem abrigo.
2 – O que valoriza ou desvaloriza, na herança de Rui Rio?
Rui Moreira – Valorizo muito, até pelo exemplo diferenciador, o equilíbrio financeiro, o rigor da gestão e o pagamento atempado a fornecedores (20 dias, atualmente). Em suma, o bom principio que conhecemos por contas à moda do Porto e que é fundamental, não apenas em si mesmo, mas também pelo contributo que dá à dinamização da economia local. Valorizo, substancialmente, o trabalho e o investimento realizados na recuperação e reabilitação dos bairros sociais. É um esforço que não está nunca concluído e que tenciono prosseguir e, se necessário, reforçar. E devo destacar, também, o processo de reorganização e modernização administrativa da Câmara, que trouxe uma maior eficácia à gestão municipal e a devida valorização de todos os funcionários.
Não posso valorizar especialmente a atividade da Câmara, em termos de promoção do crescimento económico e de fomento da criação de emprego. São pelouros que eu vou assumir pessoalmente e em relação aos quais espero apresentar resultados. A política cultural é outro tema que tem sido muito debatido. Mesmo não tendo constituído uma prioridade, o certo é que a atividade cultural do Porto é hoje muito mais rica e intensa do que era há alguns anos. Agora, julgo que é preciso ir mais longe e reforçar o investimento nesta área. Mas faço um ponto de honra: comigo, a Câmara do Porto não terá qualquer interferência na criação e na expressão artística da cidade.
Manuel Pizarro – O melhor é a situação financeira da Câmara, com prazo de pagamento inferior a 30 dias, que é para manter. O pior é o divórcio entre a Câmara e as instituições da cidade e a falta de uma visão estratégica claramente assumida, que possa ser partilhada pela autarquia e pelos cidadãos do Porto. O executivo funcionou como direção dos serviços municipais e não como governo da cidade.
3. A Câmara Municipal devia ter responsabilidades na gestão dos transportes públicos? Se sim, como entende essa participação?
Rui Moreira – A transferência de competências a nível da gestão dos transportes pode fazer sentido. É assim na maioria das cidades europeias da dimensão do Porto – as cidades ou regiões gerem as redes de transporte público -, com vantagens evidentes, em termos económicos e sociais e, sobretudo, quanto à qualidade do serviço prestado aos cidadãos. No caso concreto, uma transferência de competências só faz sentido e só é viável se o Estado, a par das competências e responsabilidades camarárias, proceder à transferência dos meios financeiros adequados à prestação desse serviço público. Entendemos que é obrigatória a candidatura ao próximo quadro comunitário de apoio da construção de uma nova linha de metro, entre Matosinhos e S. Bento, cobrindo toda a zona ocidental da cidade. Defendemos que as linhas mais centrais do metro devem funcionar durante toda a noite, ao fim de semana, reduzindo a sinistralidade e a poluição. Julgamos que deve ser rapidamente recuperado o acordo entre a Câmara e a Refer, com vista à construção de um terminal rodoviário em Campanhã.
Manuel Pizarro – O que é essencial é dar conteúdo efetivo à Autoridade Metropolitana de Transportes, que reúne as diferentes empresas e os municípios. Essa entidade devia ter poder efetivo junto das empresas públicas e ter poderes reforçados junto dos operadores privados. As questões do financiamento do transporte público, dos investimentos e dos preços para os utilizadores deviam ser reguladas pela AMT. Com o centralismo exacerbado deste Governo nada disto parece possível.
4. Gaia, Porto e Matosinhos devem ser uma mesma cidade?
Rui Moreira – Não. Sou favorável ao reforço das competências de âmbito metropolitano e ao aprofundamento de sinergias entre os diversos concelhos da Área Metropolitana. Sou completamente contrário à fusão do Porto com outros municípios.
Manuel Pizarro – O que me parece imperioso é reforçar muito a cooperação entre as cidades. Infelizmente, não temos o contexto institucional adequado, que passaria por uma Junta Metropolitana eleita diretamente. Por isso, vou estabelecer reuniões mensais com os presidentes de Câmara e lançar um Plano Estratégico de Ordenamento e Desenvolvimento do Território Metropolitano, em articulação com os municípios da Área Metropolitana, a Junta Metropolitana do Porto e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte.
5 Qual é a melhor parte da cidade para…
a) Morar
b) Namorar
c) Passear
d) Trabalhar
e) Diversão
Rui Moreira
a) A Avenida da Boavista. Tenho a felicidade de morar onde gosto.
b) Isso é aquela parte onde o Porto é “o segredo melhor escondido do mundo”…
c) Na Sé, na Ribeira, em Miragaia e em praticamente todo o centro histórico e nas suas ruas comerciais. Sempre a pé e sem ter que olhar para o relógio.
d) Trabalhei grande parte da minha vida na Praça do Infante, primeiro em negócios da família, depois em negócios meus, mais tarde na Associação Comercial do Porto. É fantástico poder trabalhar com o rio Douro por perto. Se, como espero, ganhar as eleições, tenho a certeza de que vou gostar de trabalhar na Praça General Humberto Delgado.
e) A Baixa, sem dúvida.
Manuel Pizarro
a) Antes de mais, em qualquer lugar do Porto, mas, particularmente, no Centro Histórico, na Baixa, na Foz, nas magníficas ruas do Bonfim, de Santo Ildefonso ou de Cedofeita, da solidária Campanhã ou nas mais periféricas freguesias de Ramalde e Paranhos.
b) Os jardins de Serralves, o Palácio e os Caminhos do Romântico, apesar da degradação…
c) O Parque da Cidade; o sempre surpreendente Centro Histórico do Porto; os recantos encantados da Foz Velha.
d) O “meu ” Hospital de S. João. A Baixa.
e) A “movida” dos Clérigos.
6. Se um amigo seu estrangeiro quisesse visitar o Porto, que lugares lhe sugeria?
Rui Moreira – Que se perdesse na cidade e que descobrisse que o caráter do Porto decorre de ser uma cidade que sabe ser cosmopolita, sem deixar de ser popular e que é popular precisamente porque também é cosmopolita. Mas se o meu amigo for muito adepto do planeamento, diria que não podia perder Serralves, a Casa da Música e o Palácio da Bolsa, a Ribeira e a Sé, um almoço na Conga e um lanche no Gomes. E, claro, o Estádio do Dragão.
Manuel Pizarro – Costumo programar uma visita ao centro histórico, começando pela Bataria da Vitória, descendo em direção ao rio, deliciando-o com Miragaia, a Ribeira e uma subida até ao morro da Sé. Mas os percursos portuenses são imensos e desafiantes. E, claro, não se pode perder uma ida a Serralves e à Casa da Música.
7. O Porto precisa de mais alguma travessia do Douro?
Rui Moreira – Não, nos próximos quatro anos, seguramente. Não é uma prioridade. Quando chegar o momento e houver condições para estudar e planear, parece-me que uma nova travessia pedonal, à cota baixa, é a solução mais aconselhável, mais económica e mais equilibrada.
Manuel Pizarro – Admito que podemos aumentar as travessias pedonais à cota baixa, mas temos que encontrar soluções com custo baixo e não embarcar em projetos megalómanos de novas pontes. Para isso vou melhorar a circulação pedonal no tabuleiro inferior da Ponte D. Luís I (criando uma passagem confortável e segura como existe no tabuleiro superior) e estabelecer ligações regulares por barco, em alguns locais.
8. Quais seriam os seus três desejos para o Porto, se lhe aparecesse o génio da lâmpada?
Rui Moreira – Tenho muita pena mas não acredito no génio da lâmpada. Em vez de desejos, tenho garantias: rigor, transparência, ambição e realismo.
Manuel Pizarro
1) Obter financiamento comunitário para o programa de eficiência energética, que inclui a instalação de mais de 20 mil metros quadrados de paineis solares para aquecimento de água, nos bairros sociais e cooperativos, reduzindo em 50% as emissões de carbono das casas e em 25% a fatura energética das famílias e de 6 mil metros quadrados de painéis solares em IPSS e associações, diminuindo os seus encargos e libertando recursos para a ação social, o desporto e a animação.
2) Concretizar um grande programa de requalificação urbana, capaz de recuperar entre 400 e 500 edifícios em cada ano, gerando 2 500 postos de trabalho diretos e novas oportunidades para residir na cidade, para alojar estudantes universitários e para reativar a economia local.
3) Resolver o financiamento do Metro do Porto, permitindo o lançamento das novas linhas (Campo Alegre, Senhora da Hora-S. Mamede de Infesta-Hospital S. João, novas ligações a Gaia e a Gondomar).
9. Como se pode desenvolver o turismo no Porto?
Rui Moreira – Evitar que o Porto seja uma moda, até porque se há coisa que sabemos é que as modas passam. A aposta na diferenciação, no facto de sermos uma cidade simultaneamente popular e cosmopolita, de sermos únicos, é o caminho para manter e reforçar o Porto como um destino relevante, captando mais turismo. Claro que há investimentos que precisam de ser feitos, como a construção do Centro de Congressos do Porto (no Palácio de Cristal e preservando integralmente os seus jardins), e claro que é importante trabalharmos em cooperação total com a ANA, com os operadores e com o Turismo de Portugal.
Manuel Pizarro – Qualificando a oferta, assegurando a qualidade dos serviços de hotelaria e restauração, intensificando a programação cultural da cidade. A CMP deve facilitar a vida dos promotores, seja da indústria hoteleira ou dos alojamentos locais (hostels e similares), seja da restauração ou dos locais de convívio noturno, compatibilizando a sua instalação com a vida dos moradores. Devemos, ao mesmo tempo, defender fortemente a nossa identidade – por isso quero instalar, no Palácio de S. João Novo, o Museu do Porto – e, em harmonia e em confronto com ela, devemos apostar fortemente na criação cultural e na modernidade. Temos, ainda, que investir na limpeza urbana, no arranjo do espaço público e na coesão social.