Dois novos líderes sindicais e um Governo radical estão mudar o cenário laboral no País. Com consequências que podem ir para além da próxima greve.
Será a próxima greve geral, marcada para dia 27, apenas mais uma, neste caso a quarta a reunir as duas centrais? José Manuel Torres Couto, um dos fundadores da UGT e o homem que a dirigiu ao longo de mais de 17 anos, pensa que esta conjugação de esforços só terá sentido se ambas conseguirem apresentar-se na Concertação Social com uma proposta conjunta. Isso, diz, é “o mínimo que pode hoje exigir-se ao movimento sindical”.
Vinte e cinco anos passaram desde que ele protagonizou, pelo lado da UGT, a primeira greve das duas centrais. Estava-se em 1988 e Cavaco Silva, então primeiro-ministro, anunciara um pacote laboral que incluía a flexibilização dos despedimentos. Hoje, o cenário do mundo laboral é ainda bem mais negro do que então: 30 mil funcionários públicos correm risco de serem despedidos, a taxa de desemprego ultrapassa os 17% e os professores ameaçam com a “bomba atómica” da greve aos exames.
As contas da primeira greve geral saldaram-se pela derrota da legislação contestada, mas a UGT não saiu ela própria incólume. A tendência social-democrata, os TSDs, ficaram à margem. “Eles tinham aderido. Mas levaram um apertão do prof. Cavaco Silva e, à última hora, saltaram da greve. Tivemos de substituí-los, a seguir, na direção”, conta Torres Couto.
Hoje, o ex-sindicalista diz que, se não houver “um compromisso duplo” entre a UGT e a CGTP, que inclua uma proposta para a Concertação Social, a greve geral corre o risco de se tornar “uma fantochada”. Em 2012, ele empenhou-se em combater o acordo assinado pela UGT, então liderada pelo seu sucessor, João Proença, também na sequência de uma greve geral, e que incluía uma forte redução das indemnizações por despedimento. Esse acordo, disse então, era um erro que esta central pagaria caro.
“Ou a greve obriga a uma mudança de política ou tem de servir como arma de arremesso político para derrubar o Governo. Não há terceira via”, comenta o ex-sindicalista. Por isso, pensa que, desta vez, as duas centrais terão de partir para a Concertação Social com o mínimo denominador comum que lhes for possível: “Se só chegarem a acordo sobre quatro ou cinco pontos, paciência. Avançam com esses.”
Mais do que negociar um acordo de Concertação Social, Torres Couto diz que UGT e CGTP terão de conseguir um novo Contrato Social, pois, “neste momento, não há nenhum, foi rasgado”. Por isso, as duas centrais precisam não só de conjugar esforços à mesa de Concertação Social como defender até uma mesa maior. “Devem lá estar também Soares dos Santos, Belmiro de Azevedo, Américo Amorim ou Fernando Ulrich. Na conjuntura atual, têm também de assumir responsabilidades.”
Baralhar e dar de novo
A recente chegada de Carlos Silva à liderança da UGT introduz um dado novo no panorama laboral, onde as duas centrais se movem, há quase 40 anos, de costas voltadas. Eleito em abril com quase 90% dos votos do Congresso e sem opositor, anunciou, à partida, que, ao contrário do seu antecessor, apostaria numa aproximação à CGTP. Afinal, algo idêntico ao que se passa em Espanha, apesar de as duas centrais espanholas também serem próximas de partidos.
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Edição número 1068 de 13 de Junho de 2013