O Presidente da República considerou que apesar da austeridade e do elevado desemprego “não há desestruturação social” em Portugal e continua a existir coesão nacional.
“Apesar da austeridade, famílias em risco de pobreza, grande desemprego, vale a pena sublinhar que se mantém a coesão nacional, que não há desestruturação social no nosso país”, afirmou o chefe de Estado, durante uma entrevista de cerca de meia hora ao programa “Prós e Contras” da RTP.
E, acrescentou, além de “não existir fragmentação social”, o povo português tem manifestado um “grande sentido de responsabilidade”.
Contudo, reconheceu, “é fundamental que os sacrifícios sejam melhor distribuídos”.
Na entrevista, o chefe de Estado voltou também a falar do período pós-troika, reconhecendo que se Portugal tiver de renegociar a dívida é porque “as coisas correram mal”.
“Se Portugal tiver de renegociar a sua dívida é porque as coisas correram mal ao nosso país e então eu não tenho dúvidas que nós passaremos dias piores do que aqueles que estamos a passar neste momento”, admitiu.
O chefe de Estado escusou-se, contudo a fazer uma comparação entre a situação actual e aquela que se vivia há dois anos, mas lembrou que os credores de Portugal dizem que a dívida é sustentável.
“Estão convencidos que Portugal conseguirá no futuro gerar produção para pagar os juros e para pagar os empréstimos”, sublinhou Cavaco Silva, gracejando que não será ele a dizer coisa contrária.
Sem querer falar da acção concreta do Governo, Cavaco Silva notou, contudo, que de uma forma crescente o executivo tem vindo a reconhecer que ao lado das contas públicas é necessário colocar o relançamento da economia e a criação de emprego.
Por outro lado, acrescentou, o maior partido da oposição, até pelos encontros que tem realizado nos últimos tempos, “reconhece que é necessário estabelecer compromissos para o futuro”.
Apontando o relançamento do investimento como essencial para Portugal reencontrar o caminho do crescimento económico e da criação do emprego, Cavaco Silva voltou a insistir na necessidade “encontrar formas mais fáceis e mais baratas de financiar em particular as pequenas e médias empresas”.
E, nessa questão, também há responsabilidade do Banco Central Europeu, que devia fazer algo mais para que o crédito fosse concedido em condições mais favoráveis.
A “magistratura de influência” foi igualmente tema abordado na entrevista conduzida pela jornalista Fátima Campos Ferreira, com Cavaco Silva a insistir na necessidade do Presidente da República actuar com “muita ponderação, muito bom senso e com sentido nacional, verdadeiro sentido nacional”.
“Contenção do défice tem de ser complementada por agenda de crescimento”
O Presidente da República de Portugal aproveitou o brinde à Presidente do Brasil para insistir na necessidade de complementar a contenção do défice com uma agenda de crescimento, que considerou ser agora reconhecida pela Europa.
“O mercado brasileiro é estratégico para a internacionalização da economia portuguesa, num tempo em que o crescimento e a criação de emprego devem estar no fulcro das prioridades dos nossos decisores políticos”, declarou Cavaco Silva, no Palácio de Queluz, depois da entrega do Prémio Camões ao escritor moçambicano Mia Couto.
“A batalha pelo desenvolvimento sustentado não se trava apenas no plano da contenção do défice público. Pelo contrário, tem de ser complementada por uma agenda de crescimento orientada para a produção de bens transacionáveis, como venho sublinhando desde há muito, e a Europa agora reconhece”, acrescentou o chefe de Estado português.
Num discurso de cerca de dez minutos, Cavaco Silva reiterou que “o relacionamento entre o Brasil e Portugal tem um valor estratégico fundamental” e falou das migrações de populações nos dois sentidos.
“Os nossos estudantes, investigadores, artistas, escritores têm o Brasil no seu horizonte. E o mesmo se passa com os estudantes e artistas brasileiros. Temos este ‘fado’ em comum, o ‘traço de união’ de que falava o poeta Miguel Torga. Apercebemo-nos deste espelho fraterno pela constância do movimento pendular, nos dois sentidos, entre os nossos dois países: ora os portugueses rumam ao Brasil, ora os brasileiros chegam a Portugal”, disse.
“Tenho a firme convicção de que a História dos nossos dois países se escreve e escreverá em comum. Por isso, em meu nome e no de minha mulher, peço a todos que se juntem num brinde à saúde e felicidade pessoal da Presidenta Dilma Rousseff, à prosperidade do povo irmão do Brasil e ao futuro das relações entre os nossos dois países”, concluiu.
Antes, o chefe de Estado português assinalou que hoje terminou “o Ano do Brasil em Portugal e de Portugal no Brasil”, que apontou como “um momento alto” das relações bilaterais.
Cavaco Silva congratulou-se com o “lugar proeminente” que o Brasil ocupa no ‘ranking’ das maiores economias mundiais, considerando que “é o resultado de muitos anos de trabalho, de aposta no longo prazo, fruto de profundas reformas económicas e da opção pelo desenvolvimento de políticas sociais que permitiram a milhões de brasileiros melhorar de forma significativa as suas condições de vida”.
A propósito da representação do Brasil em organizações internacionais, declarou: “Foi ainda com regozijo que, em Lisboa, acolhemos a notícia de que um brasileiro será o próximo Director-Geral da Organização Mundial do Comércio, candidatura que contou com o nosso apoio inequívoco desde a primeira hora