Em 2011, no período entre as comemorações do 5 de outubro e o debate do Orçamento do Estado (OE), Cavaco Silva falou mais e andou mais pelo País, mas também passou mais tempo no estrangeiro. Em pouco mais de um mês, esteve em Itália, EUA, Brasil e Paraguai e visitou vários concelhos portugueses. Sentou-se com Barack Obama, escreveu nas redes sociais e fez diversas intervenções públicas que chegaram a ser transmitidas em direto na Internet. Este ano, no mesmo período pré-aprovação do Orçamento, tem passado mais tempo no aconchego do Palácio de Belém, mantendo uma agenda intensa.
O Presidente da República também tem usado menos o Facebook, mas a última vez que partilhou um pensamento, bateu recordes de gostos (2 519) e comentários (3 889). Depois dessa declaração, a 13 de outubro, o Chefe de Estado retirou-se da esfera dos comentários públicos. O País começou a ficar inquieto e os colunistas de vários órgãos de comunicação social fizeram questão de criticar-lhe o silêncio.
Houve um, José Vítor Malheiros, que exigiu uma prova de vida ao Presidente, numa crónica publicada no jornal Público, sob um título provocatório: E se Cavaco Silva estivesse incapacitado? No mesmo dia, o PR apareceu num evento público, ao marcar presença na inauguração de um hotel. À saída, falou aos jornalistas, e disse: “O que não falta em Portugal são apetites por protagonismo mediático. Pode faltar trabalho. Eu prefiro o trabalho.”
- FACEBOOK
2011 – Entre 5 de outubro e 12 de novembro de 2011, o Facebook presidencial foi marcado por intensa atividade. Cavaco Silva escreveu quatro posts sobre a viagem aos EUA, partilhou uma foto ao lado de Obama, comentou a morte de Steve Jobs, descreveu a sua visita ao Brasil e emitiu, em direto, uma intervenção sua numa conferência em Florença e outra em Stanford. Também deu conta as conclusões de um Conselho de Estado.
2012 – A última vez que o Presidente partilhou um pensamento foi no dia 13 de outubro. “Nas presentes circunstâncias, não é correto exigir a um país sujeito a um processo de ajustamento orçamental que cumpra a todo o custo um objetivo de défice público fixado em termos nominais”, escreveu, concordando com as declarações da “senhora Lagarde” e do “senhor Blanchard” feitas na reunião anual do FMI, em Tóquio. “Devem ser definidas políticas que garantam a sustentabilidade das finanças públicas a médio prazo e deixar funcionar os estabilizadores automáticos.”
- BELÉM
2011 – De acordo com a agenda divulgada no site da Presidência, Cavaco Silva recebeu, no palácio cor-de-rosa, várias individualidades: Pinto Monteiro (PGR), 18 embaixadores, o ministro da Defesa do Brasil, o presidente da Associação Nacional dos Municípios Portugueses, o líder da UGT, um grupo de trabalho de Assistência Espiritual a Doentes e, claro, o primeiro-ministro. A 25 de outubro, reuniu-se ainda com o Conselho de Estado.
2012 – O essencial da agenda pública do PR, desde as cerimónias do 5 de outubro, tem acontecido no abrigo de Belém. Houve dezenas de audiências: com Paulo Portas, com António José Seguro, com a UGT ????, com o presidente da Hitachi, com ministros, presidentes e embaixadores de outros países, com associações, com os subscritores de um manifesto pelo serviço público de televisão, com o vice-presidente da Comissão Europeia, com a nova PGR (Joana Marques Vidal), com o presidente do Tribunal Constitucional, entre outros. Recebeu, também, o primeiro-ministro e deu posse aos novos secretários de Estado.
- ESTRANGEIRO
2011 – Nova Iorque, Washington, New Jersey, Florença, Génova, Assunção e São Paulo foram as sete cidades dos quatro países que o PR visitou entre outubro e novembro de 2011. A concentração de tantas viagens num mês é atípica, mas, apesar das ausências, o PR não deixou de enviar recados. Uma das declarações marcantes desta fase foi proferida em Florença: “A União Europeia tem os meios para enfrentar a crise. É inadiável garantir a estabilidade financeira e o futuro da construção europeia”.
2012 – Ao contrário do que aconteceu em 2011, este ano, na fase que precede a chegada do Orçamento do Estado a Belém, o Presidente da República não deixou Portugal. Aliás, quase não deixou o Palácio de Belém. Foi lá, inclusivamente, que recebeu a chanceler alemã, Angela Merkel.
- PAÍS REAL
2011 – À saída do Congresso dos Economistas, um dos vários eventos a que compareceu fora de Belém (visitou, igualmente, os concelhos de Oliveira do Bairro, Sintra, Carregal do Sal e Nelas e foi ao Cartaxo), o PR fez o comentário mais marcante do período em que se discutia o OE para 2012, dizendo que via a eliminação dos subsídios dos funcionários públicos e pensionistas como a “violação de um princípio de equidade fiscal”. Estávamos a 19 de outubro. “Mudou o Governo, mas eu não mudei de opinião”, acrescentou.
2012 – Também não há registo de visitas a concelhos ou a localidades espalhadas pelo País. Neste último mês, Cavaco Silva saiu pouco da Presidência da República e falou ainda menos ao País. Na sua mais recente intervenção pública, na inauguração do Hotel Myriad, no Parque das Nações, referiu-se ao OE, dizendo: “Ninguém me pressionará sobre essa matéria. É uma questão de grande relevância nacional e eu atuarei de acordo com o interesse nacional.”