- Lugares marcados: Os lugares na mesa (oval) do Conselho de Ministros estão marcados e ninguém se senta fora do sítio. Na sala onde se reúnem os governantes há lugar para o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Francisco Ribeiro de Menezes, que assiste a tudo.
- Participantes: Passos Coelho senta-se no topo da mesa. Seguem-se, pela esquerda, Paulo Portas, Paulo Macedo, Miguel Relvas, Assunção Cristas, Nuno Crato, Carlos Moedas e Marques Guedes (no topo da mesa oposto). À direita de Passos senta-se Vítor Gaspar, depois Aguiar Branco, Paula Teixeira da Cruz, Álvaro Santos Pereira, Miguel Macedo e Pedro Mota Soares.
- Ouvir sempre: O primeiro-ministro tem o vício de ouvir, que partilha com Vítor Gaspar. Alguns ministros, pelo contrário, têm o vício de falar, como o próprio Gaspar. Daí resultam reuniões longas, em que cada um discorre sobre assuntos muito específicos das suas pastas.
- Artigo a artigo: Outro dos aspetos que contribuem para que as reuniões se prolonguem é o facto de a proposta de OE ser vista artigo a artigo. As decisões são tomadas no momento e pelo coletivo, com as vantagens e desvantagens que daí advêm, nomeadamente a falta de preparação. Alguns documentos seguem, antes ou depois dos encontros, por mail.
- Método Gaspar: Os ministros tomam notas durante as reuniões, em papel, nos iPads ou em computadores portáteis. Para Vítor Gaspar, tirar notas faz parte de um método que o ajuda a escrever os relatórios dos encontros. Gaspar anota o que cada um vai dizendo e, no fim das discussões, resume as posições tomadas e o que ficou acordado, de forma a vincular os ministros ao que foi decidido.
- Fumar na rua: Nas grandes maratonas dos últimos dias, os telemóveis não tocam e só saem da mesa os fumadores (como Miguel Macedo). Como ninguém está autorizado a fumar na sala, é preciso ir à “rua”, longe dos olhares das câmaras de televisão.
- Dress code e alimentação: Os ministros não bebem água engarrafada. Há jarros em cima da mesa que são enchidos conforme as conveniências. As refeições (leves) são servidas in loco. Só no domingo, 7 de outubro, é que os governantes saíram para almoçar. Nesse dia, o guarda-roupa foi mais descontraído e nem todos levaram gravata.
- O mais assertivo: Paulo Macedo é o ministro que tem feito mais intervenções cirúrgicas e propostas pertinentes, capazes de fazer Vítor Gaspar recuar. Conhece a máquina fiscal e a empresarial, conhece a banca, tem competências técnicas reconhecidas, opina e é muito assertivo.
- Anedotas contidas: Nuno Crato é um dos intervenientes mais discretos. Não fala muito, mas tem sempre uma palavra com humor para ajudar a descomprimir. Costuma começar as suas declarações a fazer uma piada qualquer, centro do contexto da discussão.
- Todos atingidos: Por vezes, os governantes dão os seus exemplos pessoais para demonstrarem como certas medidas atingem as suas vidas e as dos outros portugueses. Há ministros que têm filhos desempregados, outros têm mães ou irmãos que vão ter grandes aumentos do IMI, outros têm familiares diretos emigrados, etc.
Conselho de Ministros visto pelo buraco da fechadura
Créditos: Luís Barra
Saiba o que veria se fosse uma mosca e passasse pelas reuniões de preparação do Orçamento do Estado, que juntaram ministros e alguns secretários de Estado e perfizeram 43 horas em pouco mais de uma semana