O jornal Público publicou hoje um esclarecimento aos seus leitores sobre o “caso Relvas”. Entre outras coisas, revela que uma das ameaças feitas foi a de que “iria revelar na internet que a autora da notícia vive com um homem de um partido da oposição”. O Público acrescente que Miguel Relvas nomeou esse partido, mas que o diário considera desnecessário revelar de que partido se trata.
Segundo o esclarecimento aos leitores do jornal, a “notícia que não saiu” e que levou a jornalista Maria José Oliveira a enviar questões ao ministro dos Assuntos Parlamentares – e pedir-lhe para responder em 32 minutos – tinha como base a primeira notícia da resenha diária de imprensa que o ministro terá recebido do ex-diretor do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED).
Em causa estava o facto de Miguel Relvas ter dito inicialmente não “ter ideia” de ter recebido ‘sms’ e ‘clippings’ de Jorge Silva Carvalho e, depois, na audição parlamentar de 15 de maio, ter afirmado lembrar-se que a primeira notícia que recebeu do ex-diretor do SIED era sobre uma viagem de George W. Bush ao México.
Por outro lado, o ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares afirmou ter conhecido Jorge Silva de Carvalho apenas em 2010, quando era secretário-geral do PSD (entre março de 2010 e junho de 2011), mas a referida notícia sobre a viagem do ex-Presidente norte-americano aconteceu em 2007, refere o jornal.
As alegadas incongruências estiveram na base das questões enviadas por e-mail ao atual ministro-adjunto às 15:27 do dia 16, tendo a jornalista indicado que precisava da resposta até às 16:00.
Questões que Miguel Relvas alegou ter sido “pidescas”, não existindo justificação para “pressionar” o ministro a respondê-las em 32 minutos, o que levou ao protesto e alegadas ameaças às duas jornalistas (Maria José Oliveira e à editora Leonete Botelho).
O Conselho de Redação do Público afirmou no passado dia 18, que Miguel Relvas ameaçou queixar-se ao regulador do setor, promover um “blackout” de todos os ministros àquele jornal diário e divulgar, na Internet, dados da vida privada da jornalista que o confrontou, se fosse publicada uma notícia sobre o caso das secretas.
A notícia pretendia evidenciar “as incongruências” das declarações do ministro no Parlamento, sobre o caso das secretas, mas acabou por não ser publicada.
Mais tarde, o Público noticiou que Miguel Relvas pedira, nesse dia, pediu desculpa ao jornal, depois de a direção ter feito um protesto por “uma pressão” do governante sobre a jornalista que acompanha o caso das secretas.
O pedido de desculpas foi feito no mesmo dia em que o gabinete do ministro refutou a denúncia do Conselho de Redação do Público.
Após as respetivas audições na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), a 24 de maio, o ministro reiterou não ter exercido qualquer pressão sobre a jornalista do Público, enquanto a diretora do diário, Bárbara Reis, reafirmou a existência de uma “pressão inaceitável”.
No mesmo dia, o presidente da ERC, Carlos Magno, admitiu a possibilidade de voltar a ouvir Miguel Relvas, depois de ter ouvido também a jornalista Maria José Oliveira, a editora de Política do Público, Leonete Botelho, e o Conselho de Redação do diário.
A maioria PSD e CDS-PP chumbou a 23 maio os pedidos feitos pelo PS e por Os Verdes para ouvir o ministro e os restantes envolvidos no caso, aguardando o relatório da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), enquanto o presidente do regulador admitiu não ter uma previsão sobre o tempo que irá demorar o processo de averiguações.
No dia seguinte, em declarações aos jornalistas após a audição na ERC, Miguel Relvas manifestou-se disponível para ir ao Parlamento, enquanto o PS disse esperar que o PSD recue e viabilize agora a audição do ministro na Comissão de Ética.