E atrás dela eles caminham, empunhando as bandeiras laranja, entoando em coro os seus cânticos. São 24 militantes da Juventude Social Democrata, recrutados em todo o País, para acompanharem a líder do PSD durante as duas semanas de campanha. Em Portalegre, na segunda-feira, 14, durante o passeio de meia-hora de Manuela Ferreira Leite pela baixa da cidade, é o friso juvenil que dá algum brilho à arruada dos sociais-democratas. Sem eles, Manuela Ferreira Leite passaria praticamente despercebida nas ruelas vazias, sob o sol escaldante do Alto Alentejo.
A rua não é o forte da candidata “laranja” a primeira-ministra. Apesar do sorriso omnipresente, a contrariar a ideia de “mulher de ferro” que se lhe colou quando exerceu as funções de ministra das Finanças, Ferreira Leite tem dificuldade em libertar o verbo, em iniciar uma conversa, em criar empatia com os eleitores.
De sapatos de salto raso e com a mala a tiracolo, a líder do PSD parece ir contrafeita ao encontro das pessoas, a quem entrega, apressadamente, os folhetos com as suas principais ideias. Apertos de mão e beijos distribui-os, preferencialmente, pelos comerciantes que, à porta das lojas, aguardam a passagem da comitiva e pelos eleitores mais velhos.
A mesma sensação em Cascais, onde, na sexta-feira, 11, visita o centro da cidade, na companhia de António Capucho, o presidente social democrata da autarquia: Manuela é um peixe fora de água, nos contactos com o público.
ESPANHA, CRIANÇAS E ASFIXIA DEMOCRÁTICA
Mas, questionada pelos jornalistas, encadeada pela inclemente luz das câmaras de TV, numa pausa da apertada agenda ou numa sala cheia de militantes, Ferreira Leite transforma-se. Aí, recupera o verbo assassino: “A crise salvou o engenheiro Sócrates”, dispara, perante cerca de 300 pessoas que a esperam no restaurante o Convento, em Castelo Branco, distrito-bandeira do líder do PS, que foi eleito por este círculo, em 2005.
E acrescenta, aludindo à promessa socialista de constituir uma conta poupança de 200 euros por cada criança nascida em Portugal: “Acho abusivo que o engenheiro Sócrates queira tomar conta das crianças de cada um. O que ele lhes deixa é uma dívida muito superior a estes 200 euros.” Ou ainda: “Não tenho medo de defender o País e a nossa independência”, frase síntese da sua campanha anti-TGV e da sua cruzada contra Espanha, que “não a amedronta”.
E também: “José Sócrates considera moderna uma sociedade asfixiada e submissa ao Estado.” A sonolência que parecia atordoar os militantes abandonou-os: os gritos de apoio ecoam, na sala, e fazem esquecer a espera pela comida.
Para António Padez, 24 anos, estudante do 2.º ano de Geografia na Universidade de Coimbra, “Manuela é verdadeira e genuína, igual a si própria”. Ele que, no grupo de jovens da JSD, é o responsável pelas letras das canções da campanha, promete que, em breve, haverá uma toada alusiva ao TGV. E outras, sobre os temas quentes da campanha. Para, como prometeu a candidata, daqui a 15 dias, estar ocupada a escolher ministros para formar Governo.