Oposição de Esquerda, União de Forças de Esquerda, Partido Socialista Progressivo da Ucrânia, Partido Socialista da Ucrânia, Partido dos Socialistas. Estes são cinco dos onze partidos suspensos pelo Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, decisão anunciada no domingo por Volodymyr Zelensky no seu canal do Telegram. O presidente da Ucrânia justificou a decisão com a alegada ligação ao aparelho russo por parte destes partidos. Os outros da lista são a Plataforma de Oposição – Pela Vida, o Partido Shariy, o Nashi, o Estado, o Bloco Volodymyr Saldo e o Bloco de Oposição.
“Qualquer atividade de políticos destinada a dividir ou colaborar não terá sucesso”, disse Zelensky. “Portanto, o Conselho de Segurança e Defesa Nacional decidiu, dada a guerra em grande escala desencadeada pela Rússia, e os laços políticos que várias estruturas políticas têm com este estado, suspender qualquer atividade de vários partidos políticos durante o período de lei marcial.”
O facto de quase metade dos partidos agora suspensos terem “esquerda” ou “socialista” no nome levou a acusações de que se trata de um ataque aos partidos de esquerda. Mas, na realidade, por mais estranho que possa parecer no Ocidente, onde os conceitos de esquerda e direita são muito claros, em vários países da ex-União Soviética a ideologia partidária é fluida ou pouco vincada.
Segundo uma análise sobre o desenvolvimento dos partidos políticos na Ucrânia, realizada pelo GSDRC (Governance and Social Development Resource Centre, um grupo de estudos britânico), “a fraqueza da ideologia nos partidos políticos é comum em toda a Eurásia pós-soviética, não apenas na Ucrânia, tornando a região diferente da Europa Oriental pós-comunista e dos estados bálticos.” Os eleitores ucranianos, conclui a mesma instituição, “não conhecem a orientação ideológica ou programática dos partidos em que votam, tendendo antes a ser guiados pelo ‘fator pessoal’ do líder, o que não é surpreendente, dado o posicionamento amorfo dos partidos e as mudanças frequentes nas preferências políticas declaradas dos líderes.”
Um dos exemplos dados pela análise é a do ex-presidente Petro Poroshenko, que perdeu nas últimas presidenciais para Zelensky. “A fraqueza da ideologia e a enorme corrupção política fazem com que os políticos ucranianos sejam camaleões. Poroshenko foi um dos cinco líderes do partido que estabeleceram o Partido das Regiões, depois mudou-se para A Nossa Ucrânia”. Ou seja, deixou de ser apoiante do presidente pró-russo Viktor Yanukovitch para passar a apoiar o seu arqui-inimigo europeísta Viktor Yushchenko.
Mesmo os nomes dos partidos têm pouco, se é que algum, significado. Por exemplo, o Partido Socialista Progressivo da Ucrânia é apontado como sendo de extrema-direita, num ensaio da Escola de Estudos Eslavos e do Leste Europeu da University College London. Aliás, o partido, de pendor populista, já contou nas suas listas com Pavel Gubarev, o autoproclamado “governador popular da Região de Donetsk”, que começou por ser membro de um partido russo neonazi antes de integrar o Partido Socialista Progressivo da Ucrânia.
O possível presidente-fantoche
Dos 11 partidos suspensos pelas autoridades ucranianas, apenas dois têm representação parlamentar: a Plataforma de Oposição – Pela Vida (maior partido da oposição, com 43 deputados) e Bloco de Oposição (seis deputados). O primeiro é um partido pró-russo, que tem nas suas fileiras Viktor Medvedchuk, amigo de Putin (dado como padrinho de uma das suas filhas) e eurocético, que só denunciou a invasão russa duas semanas depois do início da guerra. Um dos seus deputados, Illia Kyva (ex-líder do Partido Socialista da Ucrânia e que antes disso havia pertencido ao Setor Direito) começou mesmo por apoiar a incursão militar, logo no primeiro dia, afirmando publicamente que “os ucranianos precisam de ser libertados”.
O segundo, o Bloco de Oposição, é um partido nascido em 2019 a partir de uma cisão de outro partido com o mesmo nome, fundado cinco anos antes. Nas últimas eleições, elegeu os seus seis deputados pelas listas regionais. A nível nacional, não atingiu o patamar mínimo de 5% para conseguir eleger um deputado. O partido é liderado por Yevhen Murayev, o dono de um canal de televisão que o Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico revelou, em janeiro, a partir de informações dos serviços secretos, ser um dos principais candidatos a liderar um governo-fantoche imposto por Putin em Kiev.
Numa demonstração das originalidades da política ucraniana, Murayev é também líder de outro partido suspenso na decisão de domingo, o Nashi. Tal como o Bloco de Oposição, este nasceu das cinzas do Partido das Regiões, do ex-presidente pró-russo Yanukovitch.
Entre os movimentos pró-russos proibidos está ainda o Partido de Shariy, do youtuber Anatoly Shariy, uma figura controversa que chegou a dizer que compreendia a eliminação de homossexuais por parte do regime iraniano e pelos nazis. Alguns membros do partido têm ligações a movimentos ultranacionalistas russos.
O Partido Socialista da Ucrânia é o mais antigo dos onze suspensos. Fundado em 1991 por membros do Partido Comunista, banido na sequência da independência da Ucrânia, encontra-se sem líder definido e moribundo, desde que o seu último candidato presidencial, o ex-político de extrema-direita Illia Kyva, não conseguiu sequer seis mil votos (0,3%).