A cidade de Kherson, no sul da Ucrânia, perto da península da Crimeia, foi, durante a última madrugada, tomada pelas forças russas, assim confirmou o seu autarca, Igor Kolykhaev, citado pelo New York Times. “O exército ucraniano não está aqui. A cidade está cercada”, referiu, acrescentando que a Rússia está a planear realizar uma administração militar na cidade. E apesar de o governo ucraniano referir que Kherson continua “nas mãos” da Ucrânia, a Rússia, que tomou as suas rédeas, garantiu que as infraestruturas civis, assim como os transportes públicos, estão a funcionar.
Esta estratégia pode significar que as forças russas estabeleceram uma cabeça de ponte, termo militarmente usado quando uma força militar ocupa uma posição provisória em território inimigo, do outro lado do rio ou mar, com o objetivo de possibilitar um posterior avanço. A partir dessa cabeça de ponte, os russos ficam capacitados de atravessar o rio Dniepre, que separa a Ucrânia em dois e passa pelas cidades de Kiev, Denipropetrovsk, Zaporizhzhya e Kherson, e seguir para oeste e norte para atacarem Kiev.
A Ucrânia alertou, também, que Putin planeia utilizar a sua frota do Mar Negro com o objetivo de realizar uma invasão marítima no sudoeste do país. A cidade portuária de Mariupol, onde vivem cerca de 500 mil pessoas, está já a ser dominada, com os separatistas pró-russos em Donetsk a confirmarem, na última quarta-feira, o bloqueio da cidade, segundo um representante da milícia Eduard Basurin, citado pela agência de notícias russa Interfax. Os abastecimentos de água e eletricidade foram cortados e as ligações ferroviárias suspensas nesta cidade portuária muito importante, por onde passa uma parte significativa dos oleodutos de gás natural que atravessam a Ucrânia.
No dia anterior, a autoproclamada república de Donetsk tinha anunciado um bloqueio quase total da cidade, apesar de o presidente russo, Vladimir Putin, ter prometido, na semana passada, que não atacaria cidades ou civis. “A missão deles é destruir-nos. Não podemos sequer tirar os feridos das ruas, das casas e dos apartamentos hoje, já que as explosões não param”, afirmou o Presidente da Câmara de Mariupol, Vadym Boichenko, citado pelo The Telegraph. Também o vice-presidente, Serhiy Orlov, reagiu, referindo que “o exército russo está a trabalhar com todas as suas armas” na cidade.
Com o controlo de Mariupol, e já tendo dominado Kherson, Putin pretende ligar a cidade de Odessa, zona estratégica pela proximidade ao Mar Negro, no sudoeste do país, ao território ocupado da Crimeia, isolando a Ucrânia do mar. De acordo com o presidente da câmara da cidade, podiam, de facto, ver-se navios russos a “chegar a Odessa”.
Ao The Telegraph, Chris Parry, ex -oficial da Marinha Real Britânica, disse que parte do plano de Putin envolve mesmo uma grande invasão ao sul da Ucrânia. “Toda gente está focada em Kiev e Kharkiv, mas na verdade as tropas realmente fortes estão no sul [da Ucrânia] – é aí que está o foco dele. Achei sempre que isso fazia parte do plano: isolar completamente a Ucrânia do Mar Negro”, afirmou.
De acordo com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, mais de 2 mil civis foram mortos desde o início da invasão russa, acrescentando, na última quarta-feira, que 9 mil soldados russos tinham morrido, apesar de a Rússia afirmar que este número era inferior a 500 (498). A coluna militar de vários quilómetros da Rússia que começou a dirigir-se para Kiev há alguns dias, está, agora, “a mais de 30 quilómetros do centro” da capital ucraniana, segundo os Serviços Secretos britânicos, já que as forças ucranianas têm resistido de forma “firme”, as estradas têm estado congestionadas e tem havido algumas “avarias mecânicas”.