Foi uma quinta-feira negra para os guardas da fronteira na Ilha das Serpentes, também conhecida como Ilha Fidonisi, a 48 quilómetros da ponta sul do continente ucraniano e 300 quilómetros a oeste da Crimeia, território anexado pela Rússia, há oito anos.
Após ouvirem o aviso dos oficiais russos para deporem as armas e se renderem para evitar baixas desnecessárias, os soldados ucranianos optaram por não acatar a ordem e responderam à altura, desafiando os atacantes, e um deles não se conteve.
Militar russo: “Este é um navio de guerra militar russo. Deponham as armas e rendam-se para evitar derramamento de sangue e baixas desnecessárias. Caso contrário, serão bombardeados.”
Resposta de um soldado ucraniano: “Navio de guerra russo, vá se f****!”
Foram estas as últimas palavras que se ouviram, segundo uma gravação audio, difundida pela CNN.
Voz de um militar russo: “Este é um navio de guerra militar. Este é um navio de guerra militar russo. Deponham as armas e rendam-se para evitar derramamento de sangue e baixas desnecessárias. Caso contrário, serão bombardeados.”
Resposta de um soldado ucraniano: “Navio de guerra russo, vá se f****”.
No Twitter, o jornalista do Guardian, Shaun Walker, reproduziu a troca de mensagens, acrescentando: “Os 13 defensores da Ilha das Cobras fazem lembrar a lenda ucraniana de 28 Panfilovtsev”, com os russos a orgulharem-se dos mitos gloriosos da Segunda Guerra Mundial, “mas com eles no papel de agressores”.
O autor do livro The Long Hangover: Putin’s New Russia and the Ghosts of the Past referia-se ao grupo de 28 soldados da 316ª Divisão de Infantaria do Exército Vermelho que participou na Batalha de Moscovo, mortos em combate a 16 de novembro de 1941, após destruírem 18 tanques alemães e travarem o ataque inimigo, tendo alcançado o título de heróis da União Soviética (ainda que investigações posteriores tenham desmentido a lenda, que deu lugar ao filme Panfilov’s 28, do realizador russo Andrey Shalopa, em 2016).
O bombardeamento ocorrido na Ilha das Serpentes assume especial relevo, dada a importância estratégica da ilha calcária do Mar Negro, hoje território da Ucrânia, situada na zona de fronteira entre aquele país e a Roménia.
No ano passado, foi considerado a “chave para as reivindicações territoriais marítimas da Ucrânia” no Mar Negro, segundo um relatório Conselho Atlântico, um ‘think tank’ apartidário, referido na notícia da CNN.
Não por acaso, foi também esse local escolhido pelo presidente ucraniano para uma conferência de imprensa que antecedeu um encontro para tentar reverter a anexação da Crimeia pela Rússia.
Após ser tornada pública a execução sumária, Zelensky anunciou ao povo ucraniano que os 13 militares seriam nomeados heróis nacionais: “Todos os guardas de fronteira morreram heroicamente, mas não desistiram. Vão receber o título de Herói da Ucrânia postumamente.”
A partir do seu escritório, em Kiev, e usando farda militar, Zelensky acusou os líderes europeus de inação face à invasão das tropas russas, lembrando que não é tarde demais para impedir esta “agressão”. Por fim, apelou aos cidadãos da União Europeia para se manifestarem e forçarem os governos dos países-membros a tomar medidas.