NATO – Defesa
O isolacionista e a realista
Donald Trump recusa ser o polícia do mundo, Kamala Harris diz que os EUA continuarão a ser a maior “força letal” do planeta
Que tipo de política externa se pode esperar de um narcisista inveterado? Aquela que lhe der mais jeito pessoal e melhor se ajustar aos seus negócios. Em julho de 1987, o então empresário nova-iorquino Donald Trump recebeu um convite para ir a Moscovo. Objetivo: erguer um hotel de luxo perto do Kremlin, que nessa altura tinha Mikhail Gorbachev como principal inquilino. O ambicioso construtor e a sua mulher, a checoslovaca Ivana Zelnicková, antiga modelo e instrutora de ski, ficaram alojados na suíte Lenine do National Hotel, a dois passos da Praça Vermelha. O casal acabou por ser recebido pelo líder comunista que queria reformar a União Soviética, embora não se conheçam pormenores do encontro, obviamente controlado pelos serviços secretos, o KGB. O que se sabe é que Trump não viu satisfeitos os seus intentos. Três meses depois, num anúncio publicado simultaneamente no New York Times, no Washington Post e no Boston Globe, que lhe custou uma fortuna – qualquer coisa como 95 mil dólares (a preços atuais, ajustados à inflação, cerca de 264 mil) –, o empresário escreveu uma prosa de teor político, algo nunca visto, em que argumentava algo muito simples: “A América não deveria pagar a defesa de países que podem muito bem defender-se à sua própria custa.”