Oléxico dos ucranianos tem aumentado de forma significativa desde 24 de fevereiro de 2022, data em que 150 mil soldados russos invadiram o país numa “operação militar especial” com o propósito de o “desnazificar”. Uma das novas palavras de que mais se fala em Kiev – em rigor, também em muitas outras capitais, de Washington D.C. a Berlim, passando por Pyongyang e Paris – é ATACMS. Trata-se do acrónimo Army Tactical Missile Systems, que pode ser simplificado, em português, para sistemas de mísseis táticos. Desde o início da guerra, ou seja, há pouco mais de mil dias, que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, solicita ao seu homónimo dos Estados Unidos da América, Joe Biden, que lhe forneça estas armas que foram concebidas, há quatro décadas, para destruir alvos soviéticos. Desde então, as Forças Armadas americanas já as usaram em diferentes pontos do globo, com enorme e polémico sucesso – nomeadamente, no Iraque e durante a derradeira fase da Operação Tempestade no Deserto, que durou apenas 41 dias e desbaratou por completo o exército de Saddam Hussein, no início de 2001.
Não é previsível que as tropas da Ucrânia possam fazer algo de semelhante às suas congéneres russas. Já ninguém acredita em guerra-relâmpago, num milagre bélico ou num cessar-fogo, digno e justo, promovido pelo futuro Presidente dos EUA, Donald Trump, que toma posse a 20 de janeiro e promete acabar com as hostilidades em “poucos dias”. Mais do que a vontade de combater e os meios ao dispor dos beligerantes, agora é também preciso ter em conta o fator climático, o chamado “general inverno”: “Nenhum dos exércitos terá capacidade para levar a cabo operações de grande envergadura. (…) Vamos encontrar-nos durante bastante tempo numa situação em que não haverá nem guerra nem paz”, vaticina o analista Oleksandr Musienko, no site noticioso ucraniano Glavred. A jurista Oleksandra Matviichuk, vice-presidente da centenária Federação Internacional dos Direitos Humanos e ainda diretora do Centro para as Liberdades Civis, organização galardoada com o Nobel da Paz em 2022, tem uma opinião semelhante: “A ajuda da comunidade internacional permitiu-nos sobreviver. Mas os atrasos resultantes de intermináveis debates políticos (…) causaram a perda de demasiadas vidas. (…) Mais do que nunca, temos necessidade de coragem verdadeira e de liderança verdadeira.” Não é garantido que os responsáveis da Casa Branca a tenham ouvido quando, no passado domingo, 17, deram luz verde a Kiev para usar os agora famosos ATACMS em legítima defesa. Como sempre acontece neste tipo de situações, há largas doses de ambiguidade e desinformação. Estas armas que podem ter um alcance de 300 quilómetros e transportar diferentes tipos de explosivos, incluindo bombas de dispersão (vulgo fragmentação), há muito que estão a ser usadas pela Ucrânia. A diferença é que, segundo o Washington Post e o New York Times, a Administração Biden, oficiosamente, permite que os caças Su-24M ou os F-16 larguem estes mísseis em território russo, cirurgicamente na província de Kursk.