A ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara, criticou o treinador de futebol Abel Ferreira, que dirige o clube brasileiro Palmeiras, por ter declarado que não comanda uma “equipa de índios”, convidando-o a conhecer a história dos indígenas e da colonização de Portugal. A governante aproveitou para recordar o recente mea culpa de Marcelo Rebelo de Sousa, para sublinhar que essa posição é um ponto de partida para “ações concretas de reparação”.
Na quinta-feira, após a vitória sobre o Atlético Goianense, por 3-1, a contar para o campeonato brasileiro, o técnico português valorizou a entrada em campo do médio argentino Aníbal Moreno, que veio devolver a estabilidade habitual ao jogo do Palmeiras, “porque esta não é uma equipa de índios”, referiu. “Temos organização e princípios de jogo, e um deles é o equilíbrio. O Aníbal é um desses pêndulos”, acrescentou, para explicar o efeito dessa sua opção tática no decorrer da partida.
Através da rede social X, Sonia Guajajara insurgiu-se ontem, sexta-feira, contra a expressão utilizada pelo treinador, já depois de este ter apresentado um pedido de desculpa na sua conta de Instagram. “O técnico do Palmeiras errou, e muito, na sua declaração. Gostaria de convidá-lo a conhecer a história dos povos indígenas do Brasil. E também conhecer a história de colonização de Portugal, seu país de origem, em relação ao Brasil e como estamos trabalhando para rever isso”, escreveu a ministra, numa primeira publicação, fazendo depois alusão às recentes palavras de Marcelo. “O próprio presidente de Portugal, recentemente, admitiu que o país foi responsável por uma série de crimes contra escravos e indígenas no Brasil. Uma declaração muito importante porque o reconhecimento de tais crimes é o 1º passo para ações concretas de reparação.”
E continuou, sem se deter: “Seu posicionamento, naquele momento, trouxe para o debate público a relevância inadiável de avançarmos numa agenda de igualdade étnico racial como premissa para a cidadania, com o resgate, a preservação e a valorização da história e dos saberes da cultura afro-indígena do Brasil.”
Mais: “Em junho, inclusive, o governo federal, em visita da ministra Anielle Franco a Portugal, assinou um Memorando de Entendimento com o Observatório do Racismo e Xenofobia do país, que desenvolve ações para sensibilizar e educar a sociedade sobre a importância da igualdade racial.”
Por fim: “Essas ações são importantíssimas e passam também pelo combate a estereótipos em relação a esses povos, que levam a falas inadmissíveis como essa de Abel Ferreira.”
A reação da ministra surgiu depois da retractação de Abel Ferreira. “Repudio toda e qualquer forma de preconceito e discriminação. Infelizmente, há expressões que continuamos a perpetuar sem que nos debrucemos sobre o seu conteúdo. Errei ao usar uma dessas expressões na conferência de imprensa. Reconheço que palavras têm poder e impacto, independentemente da intenção. Todos devemos questionar, pensar e melhorar todos os dias. Peço desculpa a todos, em especial às comunidades indígenas”, escreveu o treinador, bicampeão nacional brasileiro e bicampeão da Taça Libertadores ao serviço do Palmeiras.
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