Sempre se disse que o cão tinha sido o primeiro animal a ser domesticado, o que faz dele “o melhor amigo” da humanidade, mas uma nova pesquisa pode alterar esta ideia que tínhamos como certa. Um artigo publicado esta quarta-feira na Royal Society Open Science prova que este título pode já ter pertencido à raposa.
Um grupo de investigadores liderado por Ophelie Lebrasseur, da Escola de Arqueologia da Universidade de Oxford, chegou a esta conclusão após a análise de restos de esqueleto com mais de 1500 anos de um Dusicyon avus, uma espécie de raposa extinta que habitava a região da América do Sul. Os ossos deste único animal foram encontrados juntamente com restos humanos provenientes de 21 indivíduos e provam que a raposa era “uma companheira valiosa para os grupos de caçadores-coletores”.
O “vínculo forte” entre animal e humanos, como diz o artigo, é provado “por vários fatores”, como explica Lebrasseur. Em primeiro lugar, os investigadores destacam a falta de marcas de corte nos ossos da raposa, o que indica que não foi caçado para alimentação. Análises aos restos mortais provam que a dieta do animal era semelhante à dos humanos encontrados no mesmo local: “Essa semelhança sugere que o animal era alimentado pelos caçadores-coletores ou com restos de cozinha, em vez de ter a dieta comum à dos canídeos selvagens”. Por fim, o facto do animal ter sido enterrado num cemitério humano também faz os investigadores acreditarem no afeto que os humanos tinham pela raposa: “É muito raro e incomum, muito provavelmente, havia ali um significado pessoal”.
Segundo os investigadores, o animal encontrado deveria ter entre 10 a 15 kg. A espécie habitava nas regiões atuais do Brasil, Uruguai e Argentina, estando extinta há cerca de 500 anos por razões pouco claras – a teoria mais forte é que o aparecimento do cão doméstico nessas regiões, há cerca de 700 anos, contribuiu para o seu desaparecimento.
Apesar das fortes evidências de vínculo entre o animal encontrado e os humanos enterrados no mesmo local, Lebrasseur não quer que este estudo seja usado para generalizar as ligações com a espécie já extinta. “Acreditamos que encontrar um espécime de Dusicyon avus com uma relação tão próxima com a comunidade de caçadores-coletores é algo raro e muito interessante, mas representa um caso único de parceria entre humanos e as raposas selvagens da América do Sul”.