“Temos de chegar a acordo sobre uma data para as eleições em setembro, aproximadamente um ano após o início da guerra (de Israel contra o movimento islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza)”, declarou Gantz numa conferência de imprensa transmitida pela televisão.
“Essa data permitir-nos-á continuar o esforço militar e, ao mesmo tempo, mostrar aos cidadãos de Israel que em breve mereceremos a renovação da sua confiança”, acrescentou.
O seu apelo surge após dias de protestos em massa contra o Governo, tanto em Telavive como em Jerusalém, onde ativistas, israelitas comuns e familiares dos 130 reféns ainda em cativeiro em Gaza – segundo dados das autoridades israelitas – se juntaram pela primeira vez para exigir responsabilização.
Gantz afirmou também que abordou o assunto com o primeiro-ministro, mas que o seu apelo para a realização de eleições não foi bem recebido no partido Likud, do dirigente hebreu, que reiterou que não haverá idas às urnas enquanto não estiver terminada a guerra na Faixa de Gaza.
“Eleições agora levariam inevitavelmente a paralisia, a divisão, a perdas nos combates em Rafah e prejuízos fatais para a possibilidade de um acordo sobre os reféns”, argumentou um porta-voz do Likud num comunicado, no qual acusou Benny Gantz de “política mesquinha”.
Nas ruas, contudo, aumenta o número daqueles que criticam Netanyahu por não ter alcançado um segundo acordo para a libertação de reféns, desde o primeiro e único cessar-fogo, em finais de novembro, e o acusam de estar mais preocupado com a sua própria sobrevivência política.
Por seu lado, o líder da oposição, Yair Lapid, foi ainda mais contundente, afirmando no plenário do Knesset, o parlamento, em Jerusalém, que “em nenhum outro país do mundo o Governo teria permanecido no poder a 08 de outubro”.
Quanto ao apelo de Gantz, o líder da oposição respondeu na rede social X (antigo Twitter), dizendo que Israel não pode esperar mais seis meses até que “o pior, mais perigoso e falhado Governo da história do país regresse a casa”.
Segundo Lapid, só com a saída de Netanyahu do poder é que os deslocados das zonas fronteiriças, tanto no sul, junto à vedação com a Faixa de Gaza, como no norte, devido aos confrontos com o Hezbollah no Líbano, poderão regressar a casa.
A 07 de outubro do ano passado, combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) — desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel — realizaram em território israelita um ataque de proporções sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.163 mortos, na maioria civis, e 250 reféns, cerca de 130 dos quais permanecem em cativeiro e 34 terão entretanto morrido, segundo o mais recente balanço das autoridades israelitas.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para “erradicar” o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao norte do território, que depois se estendeu ao sul, estando agora iminente uma ofensiva à cidade meridional de Rafah, onde se concentra mais de um milhão de deslocados.
A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 180.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza pelo menos 32.975 mortos, 75.577 feridos e cerca de 7.000 desaparecidos presumivelmente soterrados nos escombros, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais.
O conflito fez também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” que já está a fazer vítimas – “o número mais elevado alguma vez registado” pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
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