“Mentir é um sinal de desespero, (…) isto não aconteceu”, disse o Coordenador de Atividades do Governo nos Territórios (COGAT), a autoridade militar israelita encarregada dos territórios palestinianos, sobre declarações previamente feitas pelo comissário da UNRWA, Philippe Lazzarini.
Segundo o responsável do COGAT, o major-general Ghassan Alian, “cerca de 16.000 camiões de ajuda humanitária entraram em Gaza e apenas 1,5% foram impedidos de entrar” e “grande parte desses 1,5% foram reorganizados para entrar posteriormente na zona”.
“As suas fontes (da UNRWA) estão erradas. Estamos constantemente em contacto com as agências das Nações Unidas e não temos ouvido nada disso”, asseverou.
Antes, Lazzarini tinha denunciado numa mensagem na sua conta da rede social X (antigo Twitter) que uma “população inteira depende da ajuda humanitária para sobreviver” e alertou de que “quase nenhuma ajuda está a entrar” devido a “cada vez maiores restrições”.
De acordo com o responsável da agência da ONU, as autoridades bloquearam a entrada de um camião carregado com ajuda porque continha tesouras utilizadas em ‘kits’ médicos infantis.
“As tesouras somaram-se agora a uma longa lista de produtos proibidos pelas autoridades israelitas, por estas considerarem que podem ter uma dupla utilidade. Nessa lista, há objetos que salvam vidas, como anestésicos, botijas de oxigénio e até pastilhas de cloro para tratamento da água, medicamentos para o cancro e ‘kits’ de maternidade”, descreveu.
Lazzarini aproveitou a oportunidade para sublinhar a importância de entregar ajuda humanitária e bens de primeira necessidade a maior velocidade.
“A vida de dois milhões de pessoas depende disso. Não há tempo a perder”, reiterou.
Por seu lado, o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) indicou num comunicado que os habitantes da Faixa de Gaza se encontram à beira da fome e precisam de um “aumento exponencial da ajuda” que chega ao enclave palestiniano.
Aplaudiu, assim que um navio com 200 toneladas de ajuda tenha zarpado de Chipre, mas insistiu que tal “não serve de substituto” da entrada de ajuda humanitária por terra.
“Qualquer ajuda alimentar ou de emergência que chegue a Gaza, como todos sabemos, é desesperadamente necessária — disso não há dúvida”, declarou o porta-voz do OCHA, Jens Laerke, acrescentando que “ela não substitui o transporte terrestre de alimentos e outra ajuda de emergência a Gaza e, em particular, ao norte de Gaza”.
A 07 de outubro do ano passado, combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) — desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel — realizaram em território israelita um ataque de proporções sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.163 mortos, na maioria civis, e cerca de 250 reféns, 130 dos quais permanecem em cativeiro, segundo as autoridades israelitas.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para “erradicar” o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível à Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao norte do território, que depois se estendeu ao sul.
A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 158.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza pelo menos 31.184 mortos, mais de 72.000 feridos e cerca de 7.000 desaparecidos presumivelmente soterrados nos escombros, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais.
O conflito fez também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com toda a população afetada por níveis graves de fome que já está a fazer vítimas.
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