No poder desde o início da democracia no país e da vitória de Nelson Mandela, em 1994, o ANC (partido Congresso Nacional Africano), do Presidente Cyril Ramaphosa, enfrenta também um aumento do descontentamento da população por causa de vários escândalos de corrupção, a que se junta um contexto de desemprego endémico e de desigualdades cada vez maiores.
O partido continua, no entanto, a ter uma máquina eleitoral forte e ainda conta com o apoio de muitos sul-africanos que se lembram, com orgulho, do papel crucial do ANC na luta contra o regime segregacionista do ‘apartheid’.
“Nos próximos três meses, explicaremos a milhões dos nossos concidadãos por que o ANC continua a ser o melhor partido para as eleições de 2024”, disse Ramaphosa, de 71 anos, perante várias dezenas de milhares de apoiantes reunidos num estádio nos arredores de Durban, capital de KwaZulu-Natal, no leste do país.
“Daqui a 50 anos, o legado do colonialismo do ‘apartheid’ e do patriarcado, ainda predominante na África do Sul, pertencerá à História”, assegurou.
O chefe de Estado também prometeu que os candidatos do ANC às eleições de maio serão sujeitos a um escrutínio cuidadoso da sua integridade.
Dezenas de milhares de pessoas vestindo as cores amarela e verde do partido participaram nesta primeira reunião de campanha do ANC numa atmosfera festiva.
Mais de 27 milhões de eleitores registados, numa população de 62 milhões de habitantes, são chamados a ir às urnas no dia 29 de maio para renovar o seu parlamento, que depois escolherá o próximo Presidente.
De acordo com as sondagens de opinião, o ANC poderá perder a sua maioria absoluta na Assembleia Nacional e ser forçado a formar um Governo de coligação.
A província de KwaZulu-Natal, a mais populosa do país, é um reduto histórico do ANC, mas o principal partido da oposição, a Aliança Democrática (DA), tem feito incursões na região e criou uma coligação com 10 pequenos grupos políticos para derrotar o adversário.
O movimento é seguido de perto nas sondagens pelo partido de esquerda radical Combatentes pela Liberdade Económica (EFF), de Julius Malema.
No entanto, o maior opositor do ANC em KwaZulu-Natal é o antigo Presidente Jacob Zuma (2009-2018), ex-pilar do partido histórico da África do Sul que criou, recentemente, um novo partido.
Nascido nesta região, o ex-Presidente, de 81 anos, anunciou em dezembro que estava a fazer campanha por um pequeno partido radical chamado Umkhonto We Sizwe (MK), o que levou o ANC a anunciar imediatamente a sua suspensão.
Jacob Zuma foi hoje atacado pelos apoiantes do ANC, que fizeram desfilar pelo estádio um caixão em representação da morte prematura do seu novo partido.
“Zuma representa a maior ameaça ao ANC em KwaZulu-Natal”, disse Zakhele Ndlovu, professor de política na Universidade de KwaZulu-Natal, em declarações à agência francesa de notícias AFP.
Os dois partidos da oposição, que já lançaram as suas campanhas, apostam em promessas de criação de emprego, de redução de uma das taxas de criminalidade mais elevadas do planeta e do fim de uma grave crise na eletricidade, que está a pesar sobre a economia da maior potência industrial do continente.
A África do Sul registou quase 84 assassinatos por dia entre outubro e dezembro, de acordo com os mais recentes dados policiais e, três meses antes das eleições, a taxa de desemprego voltou a subir para 32,1%.
O ANC detém atualmente 230 dos 400 assentos parlamentares (57,50%), enquanto o DA e a EFF têm 84 e 44 lugares, respetivamente.
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