Mark Brooks, de 42 anos, vivia em Alicante, Espanha, e morreu do que terá sido uma suposta reação alérgica após ter tomado Nolotil, um medicamento com efeito analgésico e antipirético, cujo princípio ativo é o metamizol. O fármaco está indicado na dor aguda e intensa, incluindo dor espasmódica e dor tumoral, e na febre alta que não responde a outras terapêuticas antipiréticas.
O britânico dirigiu-se a uma clínica na cidade espanhola, com o objetivo de tratar uma dor no ombro após um jogo de golfe e foi nesse estabelecimento que lhe terá sido receitado o medicamento, que só pode ser adquirido com receita médica devido à possível ocorrência de efeitos colaterais indesejáveis.
Em Portugal e Espanha, é vulgarmente utilizado; já no Reino Unido (e em mais 29 países), o medicamento não é autorizado e está no centro de uma grande polémica, depois de um grupo de pacientes ingleses ter aberto um processo judicial contra o governo espanhol, por não ter sido capaz de proteger cidadãos britânicos que visitaram o país dos efeitos potencialmente perigosos do medicamento.
Dois dias depois da toma do fármaco, Brooks foi internado em Torrevieja com suspeita de depleção de glóbulos brancos. No dia seguinte, os seus órgãos começaram a entrar em falência e acabou por morrer. Citada pelo The Guardian, a companheira do britânico contou estar a viver um “pesadelo”.
Auxiliada pela Asociación De Afectados Por Fármacos espanhola (ADAF), a mulher do britânico teve acesso às notas médicas nos documentos relativos à morte do marido, em que é referido que Brooks morreu devido a uma “aparente reação alérgica ao metamizol”.
“Ninguém devia morrer depois de uma dor no ombro causada pelo golfe. Não faz sentido. Ele tinha tudo para viver”, disse a companheira do britânico.
A ADAF já identificou cerca de 350 casos suspeitos de agranulocitose – uma alteração no sangue que reduz os glóbulos brancos, essenciais no combate a infeções, aumentando, portanto, o risco de uma infeção potencialmente fatal – associada a reações adversas ao medicamento, incluindo os casos de 170 britânicos que vivem em Espanha ou estavam no país de férias no momento em que tiveram sintomas.
Além disso, tem investigado mais de 40 mortes que suspeitam estarem ligadas à toma deste medicamento.
Em novembro de 2018, depois de ser noticiado que dez britânicos tinham morrido em Espanha enquanto tomavam metamizol (apesar de na altura não ter sido encontrada ligação direta ao analgésico), a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) recomendou cuidados especiais no uso de medicamentos para as dores contendo metamizol, como o Nolotil, devido ao seus potenciais efeitos secundários graves.
No mesmo documento, o Infarmed referia que o metamizol é um medicamento utilizado para o tratamento da dor e febre há cerca de 40 anos e que a reação por agranulocitose “apesar de grave, é muito rara”.
Para minimizar os riscos de agranulocitose associado à utilização de metamizol, o Infarmed recomendou ainda que o seu uso fosse restrito a um período temporal (máximo de sete dias) e uma monitorização através dos valores do hemograma se for por mais tempo.
Os doentes a quem foi prescrito metamizol, salientou ainda o Infarmed, não devem interromper o tratamento, mas sim consultar o médico caso surjam sintomas de discrasia sanguínea, tais como mal-estar geral, infeção, febre persistente, hematomas, hemorragias ou palidez. E aos médicos prescritores e restantes profissionais de saúde, o Infarmed solicitou especial atenção para a prevenção e/ou deteção precoce do aparecimento deste ou de outros efeitos indesejáveis.
Além de poder provocar agranulocitose, podem ocorrer outras reações alérgicas com a toma deste medicamento, que vão desde vermelhidão na pele a, em casos mais graves, choques anafiláticos.