No Uganda, onde grande parte da população não tem acesso a uma alimentação rica e diversificada, morrem milhares de crianças todos os anos devido à deficiência de vitamina A. Para tentar estancar o problema, cientistas do país, do National Agricultural Research Laboratories, começaram em 2005 a trabalhar em cruzamentos da variedade local, conhecida por matoke, com outras variedades, para tentar criar uma banana fortalecida com beta-caroteno (que o fígado depois converte em vitamina A). Foi escolhida a banana por ser um dos alimentos mais populares na região.
Depois de muitas tentativas, e ao fim de quase 20 anos, o objetivo foi conseguido, num trabalho conjunto com James Dale, um investigador australiano, da Universidade de Tecnologia de Queensland, e com o apoio financeiro da Fundação Bill e Melinda Gates, que investiu mais de €10 milhões no projeto. Na base do sucesso está a inserção de um gene de uma variedade de banana da Nova Guiné (um dos locais onde o fruto foi pela primeira vez “domesticado”), a asupina, que tem 30 vezes mais beta-caroteno do que a matoke, da África Oriental. Seguiram-se outros melhoramentos e cruzamentos para maximizar a produtividade das colheitas.
Ao fim de quase 20 anos, e dez anos depois de ter sido nomeada uma das 25 invenções do ano pela revista Time, a superbanana, batizada de Banana21, está tecnicamente pronta. Mas têm surgido barreiras que impedem a sua produção e comercialização. A primeira é a cor da banana, alterada pelo beta-caroteno – teme-se que muita gente tenha reservas em comer bananas alaranjadas.
A segunda, mais importante, é a resistência de grupos anti-OGM com influência política. O presidente do Uganda, Yoweri Museveni, continua sem ratificar uma lei sobre biossegurança aprovada pelo parlamento em 2017, o que impede a entrada no mercado da “superbanana”.
O diretor do National Agricultural Research Laboratories, Wilberforce Tushemereirwe, não esconde o desgosto com as forças externas que bloqueiam um alimento com o potencial de salvar milhares dos seus compatriotas. “Sinto-me muito desapontado e frustrado com o lento processo político, que está a ouvir mais uma pequena minoria de ugandeses anti-OGM que são contra a libertação de bananas provitamina A e não a ciência que teria salvado vidas de crianças”, confessou à National Geographic.
O responsável aponta o dedo sobretudo à pressão por parte de associações europeias que se têm oposto à engenharia genética. Os investigadores por detrás da Banana21 esperavam que facto de o gene ser de outra variedade de banana (ou seja, da mesma espécie, não de uma planta ou de um animal, como muitas vezes acontece na modificação genética) fosse tolerado pelos grupos anti-OGM. Tal não aconteceu.
Estas barreiras não são diferentes das que o arroz dourado tem encontrado ao longo dos últimos 25 anos. Esta variedade, também fortalecida com beta-caroteno, é uma das grandes esperanças para os problemas crónicos de deficiência de vitamina A no sudeste asiático, onde o arroz é o alimento mais consumido. Mas tem sido alvo de ataques permanentes de movimentos ambientalistas, com a Greenpeace à cabeça, que alegam que ainda são desconhecidos os possíveis efeitos na saúde e no ambiente. Ironicamente, estes grupos têm destruído campos de teste de arroz dourado, usados para estudar os seus impactos. Não há qualquer estudo científico, revisto pelos pares, que demonstre consequências negativas para a saúde decorrentes do consumo de alimentos geneticamente modificado.
Estima-se que 38% das crianças ugandesas entre os seis meses e os cinco anos sofram de deficiência de vitamina A. No caso das mulheres entre os 15 e os 49 anos, os estudos apontam para 36%.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, entre 250 mil e 500 mil crianças ficam cegas todos os anos devido a deficiência de vitamina A. Metade dessas crianças morrem menos de um ano depois de perderem a visão.