Muitos de nós sempre ouvimos dizer que os relatos de Fernão Mendes Pinto não são de fiar. No entanto, o famoso marinheiro quinhentista, pirata, jesuíta e autor de Peregrinação – crónica das suas viagens publicada a título póstumo, em 1616 – sentiu na pele o que é navegar nas águas revoltas do estreito a que hoje chamamos Taiwan: “Os poucos que escapámos deste miserável naufrágio, que não foram mais do que vinte e quatro, afora algumas mulheres, (…) e ajuntando-nos todos assim feridos como estávamos de muitas cutiladas das ostras e das pedras que havia na restinga, encomendámo-nos a Nosso Senhor com muitas lágrimas.”
Nos dias que correm, nas duas margens do estreito, separadas por menos de duas centenas de quilómetros, já poucos recorrem a preces divinas em nome da salvação. Na ilha a que os portugueses chamaram Formosa, realizam-se neste sábado, 13, eleições gerais, e delas pode depender o futuro do planeta. Exagero? Com 395 quilómetros de comprimento e 145 de largura, trata-se de um território simbólico e estratégico para a República Popular da China (RPC), que a classifica como uma “província rebelde” há 74 anos (ver cronologia) e da qual não abdica para o seu próprio “rejuvenescimento nacional”.