Naqueles meses atribulados que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, ninguém deu importância à visita a Portugal de duas estranhas figuras vindas do outro lado da Cortina de Ferro: Yevgeny Pitovranov, vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria da União Soviética, e Alexander Schalck-Golodkowski, conhecido como Branca de Neve, líder de um departamento do Ministério do Comércio Externo da então RDA, designado Coordenação Comercial (Kommerzielle Koordinierung, mais conhecido como Koko).
Pitovranov, um homem de fato cinzento, gravata aos quadrados e óculos de meia-armação, chegou a dar uma enfadonha entrevista à RTP. O jovem jornalista Raul Durão perguntava-lhe sobre os motivos da sua presença na inauguração da 15ª Feira Internacional de Lisboa (FIL), e ele articulava umas frases vagas sobre as trocas comerciais de produtos portugueses e soviéticos. Quando instado a concretizar, o insípido sexagenário não foi capaz de referir um único produto.