Voltaram a Israel “muito magras”, na semana passada, durante a trégua de sete dias no conflito que começou no dia 7 de outubro, com o ataque do Hamas, mas o que está a deixar os médicos sem saberem o que fazer para ajudar as crianças libertadas é o trauma mais grave do que alguma vez viram.
“O mais difícil é tratar as suas almas”, lamentou à Sky News a diretora do hospital pediátrico de Schneider, em Israel, que recebeu os reféns mais novos. O trauma que as crianças sofreram é tão acentuado, sublinha a Efrat Bron-Harlev, que os médicos “simplesmente não sabem como as tratar”.
“Já lemos tudo o que podíamos sobre crianças em cativeiro, sem as famílias”, continua a pediatra, acrescentando que tem a trabalhar com estes reféns uma “equipa muito grande” de assistentes sociais, psicólogos e psiquiatras, que já viram “o pior” ao longos de 33 anos de serviço naquele hospital, mas que nem isso os preparou para este nível de trauma.
Uma das meninas de 13 anos que fazia parte do grupo de 240 pessoas sequestradas a 7 de outubro, quando comandos do Hamas invadiram o sul de Israel, num ataque sem precedentes, contou no hospital que pensou que “todos se tinha esquecido” dela, que era, de resto, do que o Hamas a tentava convencer. “Ninguém está à tua procura, ninguém te quer de volta. Ouve as bombas à nossa volta. Eles só querem matar-nos a nós e a ti”, terá ouvido a refém consecutivamente.
Israel suspendeu a ofensiva em Gaza no âmbito de um acordo negociado sob a égide do Qatar e dos Estados Unidos para libertar os reféns raptados pelo Hamas durante o ataque de 7 de outubro. Segundo um porta-voz da diplomacia norte-americana, os esforços para prolongar a pausa nos combates em Gaza falharam em parte porque o Hamas não queria que as mulheres reféns revelassem o que tinham sofrido. “Parece que uma das razões pelas quais não querem libertar as mulheres que mantêm reféns e que a pausa foi quebrada é que não querem que essas mulheres falem sobre o que lhes aconteceu enquanto estavam detidas”, disse Matthew Miller.
Os investigadores israelitas recolheram até agora “mais de 1.500 testemunhos chocantes e dolorosos”, disse uma agente da polícia ao parlamento israelita na semana passada.
A agente referia-se a “raparigas despidas acima e abaixo da cintura” e a relatos de violação em grupo, da mutilação e do assassinato de uma jovem.
O Hamas rejeitou as acusações de violação e violência sexual, descrevendo-as como mentiras.