“Que vergonha!”, bradou Vicente Jorge Silva, então deputado do PS, devido ao chumbo de um voto do BE no Parlamento, a condenar de Israel pelo ataque militar na Faixa de Gaza. Foi a 27 de maio de 2004, e o hemiciclo dividia-se, de novo, entre a esquerda (com um PS a apoiar tal declaração) e a direita (então no poder), no que se referia a um posicionamento a adotar pelo País, perante os efeitos da operação israelita Arco-Íris. Cerca de 20 anos depois, em que se contam muitos chumbos de iniciativas do BE e PCP – que visaram censurar Israel e reconhecer o Estado da Palestina ou homenagear Yasser Arafat –, aí está outro conflito para expor a enorme clivagem política, que põe os dois partidos na mira da direita.
Há, todavia, uma enorme mudança: no passado, os comunicados de comunistas e de bloquistas não surpreendiam, tendo em conta que fazem da causa palestiniana uma bandeira; agora, os ataques ferozes de novas formações políticas, como o Chega e Iniciativa Liberal, e o tom agressivo do PSD, como foi o caso de Carlos Moedas (pelo facto de PCP e BE não condenarem de forma enérgica o Hamas), vieram acirrar as posições e arrancar a direita de uma certa atitude híbrida que grande parte do PS mantém sobre o conflito.