Um camião com um placard digital a exibir os nomes e as fotos dos estudantes que assinaram uma declaração culpando apenas Israel pelos ataques brutais do Hamas, circulou pelo campus da Universidade de Harvard na última quarta-feira. O protesto coube a uma organização conservadora sem fins lucrativos, que não poupava nas palavras usadas: “Os principais antissemitas de Harvard”. No seu site, a Accuracy in Media identificou o nome completo dos alunos e lançou uma petição a pedir a expulsão dos mesmos. Contudo, o tiro parece ter saído pela culatra, com a ação a originar uma veemente condenação.
O veículo apareceu dias depois de os Grupos de Solidariedade à Palestina de Harvard, coligação de coletivos estudantis da prestigiada universidade, terem divulgado uma declaração (entretanto, apagada) que considerava “o regime israelita inteiramente responsável por toda a violência em curso” na Faixa de Gaza, nomeadamente, pelos ataques do Hamas. “O regime de apartheid é o único culpado”, acrescentavam.
O jornal universitário Harvard Crimson adianta que pelo menos quatro sites expuseram os estudantes, revelando os seus nomes, cidades natais, fotos e perfis nas redes sociais. E acrescenta que, alguns deles e respetivos grupos (oito dos 34 signatários, pelo menos) distanciaram-se da declaração anti-Israel, face à intensa reação que provocou, dentro e fora de Harvard. Muitos disseram que não leram o documento antes de o assinar, ou que o grupo a que pertenciam o tinha assinado sem o seu conhecimento.
Num comunicado publicado no seu site, a Harvard Hillel, organização estudantil judaica, condenou o protesto da Accuracy in Media e “qualquer tentativa de ameaçar e intimidar os cossignatários da declaração do Comité de Solidariedade à Palestina”. Embora continuem a rejeitar a declaração – e a exigir responsabilização daqueles que a assinaram –, defendem que “sob nenhuma circunstância essa responsabilização deve estender-se à intimidação pública de indivíduos.”
Em declarações à CNN, o responsável pelo departamento jurídico de Harvard, Laurence Tribe, também criticou as tentativas de expor os estudantes, dizendo que nomear e envergonhar os estudantes, assim como “rotulá-los como antissemitas enquanto postam suas fotos para colocar alvos nas suas costas” é “muito mais perigoso do que útil”.
O “arrependimento” pela tomada de posição foi despoletado, em alguns casos, face à exigência de Bill Ackman, bilionário fundador e CEO da Pershing Square Capital Management, e de outros empresários, de que a Universidade de Harvard identificasse os signatários, para que não os contratassem, inadvertidamente, no futuro. “Não deveriam poder esconder-se atrás de um escudo corporativo ao emitir declarações de apoio às ações de terroristas, que, como sabemos agora, decapitaram bebés, entre outros atos inconcebivelmente desprezíveis”, escreveu, na rede social X.
“Por favor, respirem fundo”, respondeu Larry Summers, conhecido economista e ex-presidente de Harvard, numa publicação na mesma rede, classificando alguns daqueles que tinham assinado a declaração como “ingénuos e tolos”, sem consciência do que estavam a fazer. Mas também criticou a resposta tardia da instituição na condenação dos ataques: “Por que não podemos garantir aos estudantes assustados que a Universidade se posiciona firmemente contra o terror do Hamas?”, acrescentou. “Para ser claro, não há nada de errado em criticar a política israelita do passado, presente ou futuro. Tenho criticado duramente o primeiro-ministro Netanyahu. Mas isso é muito diferente da falta de clareza em relação ao terrorismo.”
Dias depois, a vice-presidente executiva de Harvard, Meredith Weenick, salientou numa declaração pública que a universidade “leva a sério a segurança e o bem-estar de cada membro de nossa comunidade” e não tolera ou ignora a intimidação, ameaças, atos de assédio ou violência. Informou ainda que a polícia “intensificou sua presença no campus e continua a monitorizar a atividade online em busca de qualquer ameaça específica à comunidade ou aos indivíduos no campus”.