Sabemos sempre como começam as guerras, nunca como terminam. O aforismo é recorrente e vem dos sábios ensinamentos do florentino Nicolau Maquiavel, que, há quase cinco séculos, escreveu que os conflitos militares começam de acordo com a vontade de quem manda, mas dificilmente terminam quando deviam ou quando é oportuno para quem os inicia. No caso de Israel, as coisas são um pouco mais complicadas. O minúsculo país, cuja independência foi proclamada, em 1948, por David Ben-Gurion, nasceu e cresceu em guerra com os vizinhos árabes. Ora, contra todas as lógicas, o pequeno David resistiu e impôs-se de forma categórica aos Golias que o rodeavam. Aliás, a partir da Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel demonstrou militarmente que pode inverter os papéis destas personagens bíblicas e assumir a supremacia bélica entre os pares do Médio Oriente. Indo ao que interessa: Israel e as Tsahal (as respetivas Forças Armadas e de segurança) ganharam todas as batalhas em que se envolveram nas últimas sete décadas e habituaram-se a ostentar o título de potência invencível. É natural que a História volte a repetir-se, depois do que aconteceu a 7 de outubro de 2023, data que a generalidade dos analistas já classifica como o “11 de Setembro de Israel” e cujo Presidente, Isaac Herzog, descreveu de forma dramática, num discurso preparado pelo seu gabinete e divulgado pela revista Time: “Desde o Holocausto que não testemunhávamos cenas de judeus inocentes, crianças, adolescentes, mulheres, idosos, a serem metidos em camiões e levados para cativeiro. (…) Muitas famílias foram exterminadas. Mães e pais, com bebés nos braços, assassinados a sangue-frio. Jovens numa festa e até sobreviventes do Holocausto. Massacrados. Os seus corpos queimados e profanados.”
O chefe de Estado e o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, prometem responder de forma implacável ao ataque do último fim de semana, o maior fiasco – em termos de segurança – que o país alguma vez conheceu e fazer jus à tradição. Estarão os grupos terroristas, como o Hamas e a Jihad Islâmica – e a generalidade dos palestinianos –, condenados à “cultura da derrota”, para usarmos o conceito que é também o título de um livro do historiador alemão Wolfgang Schivelbusch? Ou será que ainda vamos aprender como se diz “derrota” em hebraico (mehdal)? Algumas questões e as respostas possíveis para entendermos o que está a acontecer em Israel e à volta do pequeno território com 51 quilómetros de comprimento, onde se acumulam mais de dois milhões de almas, considerado pela maior parte das organizações internacionais de direitos humanos como “a maior prisão a céu aberto do mundo”.