As declarações de Biden num evento de angariação de fundos para a reeleição nas eleições presidenciais de 2024, na terça-feira, abriram uma nova brecha no relacionamento sino-norte-americano, logo após o secretário de Estado, Antony Blinken, ter concluído uma visita a Pequim que se destinava a ser um passo no sentido da estabilização das relações e da melhoria da comunicação com a China.
Biden chamou ao Presidente chinês “ditador”, descreveu-o como alheado da realidade durante o alvoroço do inverno passado em torno do abatimento de um balão de espionagem chinês que sobrevoava o território dos Estados Unidos e desvalorizou a importância da China, afirmando que o país enfrentava “verdadeiras dificuldades económicas”.
A embaixada da China na capital norte-americana indicou ter apresentado um protesto formal, depois de o embaixador chinês, Xie Feng, ter declarado na quarta-feira a altos responsáveis da Casa Branca e do Departamento de Estado que Washington “deverá tomar medidas adequadas para desfazer o impacto negativo” do que Biden disse ou “enfrentar todas as consequências”.
“Com os mais recentes comentários irresponsáveis sobre o sistema político da China e o seu líder máximo, não se pode deixar de questionar a sinceridade da parte dos Estados Unidos” quanto à intenção de estabilizar as relações bilaterais, lê-se no comunicado da embaixada chinesa, citado pela agência de notícias norte-americana Associated Press (AP).
“O Governo chinês e o seu povo não aceitam qualquer provocação política contra o líder máximo da China e responderão firmemente”, acrescentou a embaixada.
O conflito diplomático com a China surge numa altura em que Biden recebe o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em Washington, numa visita de Estado com grandes honras cujo tema central será uma cautela partilhada em relação à China.
Como uma comunicação oficial de Governo para Governo, a mensagem do embaixador à Administração Biden tem mais peso que os comentários críticos emitidos na quarta-feira por um porta-voz de Pequim.
A China não forneceu mais pormenores sobre como o seu diplomata em Washington entregou a mensagem, se pretendia um pedido de desculpas da Casa Branca ou quais seriam as consequências.
Nos últimos anos, Pequim e Washington têm tido sucessivos conflitos diplomáticos e a China tem recorrido a medidas retaliatórias, oscilando entre o corte de relações diplomáticas e a realização de manobras militares ao largo de Taiwan para mostrar o seu descontentamento.
Hoje inquirido, no final do encontro com Modi na Sala Oval da Casa Branca, sobre as consequências para as relações entre a China e os Estados Unidos de ter chamado a Xi Jinping “ditador”, Biden afirmou que tal não minou os progressos nas relações bilaterais e que espera reunir-se com o líder chinês “num futuro próximo”.
Quanto aos seus comentários sobre a China, o chefe de Estado norte-americano observou: “Isso não é coisa que eu vá alterar muito”.
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