Na Ucrânia, o inverno que se avizinha é negro. Os ataques russos às centrais elétricas, iniciados em outubro, têm provocado interrupções frequentes na eletricidade do país, que se prolongam por horas, em centenas de localidades.
O cenário já era difícil, desde que o operador ucraniano Ukrenergo decidiu realizar cortes programados na rede elétrica para garantir o funcionamento estável do sistema, mas, segundo adianta a CNN, a situação intensificou-se na última segunda-feira, depois de os habitantes de Kiev ficarem mais de 12 horas às escuras.
São mais de quatro milhões e meio de ucranianos que se encontram atualmente sem eletricidade, conforme afirma o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sendo a região de Kiev a mais afetada. Aos habitantes, resta recorrer ao improviso, como estão habituados a fazer desde o início da guerra.
Esta é a realidade da cabeleireira Marya Litvinchuk, 29 anos, que viu os lucros do negócio “reduzidos para metade”, após as constantes falhas elétricas, como contou à CNN. Para continuar a trabalhar, encomendou luzes especiais que funcionam a bateria e comprou um gerador por um valor que supera os lucros conseguidos com os cortes de cabelo.
Também Anna Ermantrau, 21 anos, sente dificuldade em trabalhar com as condições atuais. Questionada pela cadeia americana de informação, a barista conta que, na manhã de segunda-feira, esperou desde as 8h30 para que a luz voltasse ao local de trabalho, o que só aconteceu duas horas depois. Ao 12h, já estava novamente tudo às escuras.
Em casa, a situação não é melhor, referiu a jovem, uma vez que a rede de abastecimento de água também sofre falhas constantes. Assim como os seis milhões de deslocados internos- dados da ONU-, Anna Ermantrau planeia mudar-se para uma vila próxima, onde tem um fogão a lenha e um poço com água, caso a situação da rede elétrica piore.
No domingo, os ucranianos celebraram a reconexão à rede elétrica da central nuclear de Zaporija, localizada a sul do país e a maior da Europa, após ter sido bombardeada pelas forças russas. Ainda assim, o presidente da Câmara de Kiev, Vitali Klitschko, pediu aos habitantes da capital ucraniana para estarem preparados para o pior, caso a Rússia continue a atacar as infraestruturas elétricas. Roman Tkachuk, diretor de segurança do executivo municipal de Kiev, em entrevista ao The New York Times, colocou mesmo a hipótese de evacuar totalmente a cidade, em caso de “apagão”.
Neste momento, pelo menos 40% da infraestrutura elétrica da Ucrânia está danificada ou foi totalmente destruída em ataques aéreos. Com o inverno à porta, a Rússia joga com o fator frio a seu favor e as autoridades de Kiev preparam-se para instalar cerca de mil abrigos de aquecimento que poderão funcionar como bunkers, mas não existem garantias que tal seja suficiente para uma cidade com três milhões de habitantes.
De acordo com os dados da ONU, a guerra, iniciada a 24 de fevereiro, já provocou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, sendo que seis milhões correspondem a deslocados internos e sete milhões a deslocações para países europeus.