Em Portugal, “os nossos jovens encontram logo um ambiente muito recetivo, muito solidário”, reconheceu José Ramos-Horta, em entrevista à Lusa, à margem de uma visita de vários dias, admitindo que o grande objetivo é obter a nacionalidade portuguesa, depois de provar a ancestralidade.
“Em Timor-Leste tem sido muito difícil, compreensivelmente, emitir passaportes, porque passa por um processo longo que é tratado em Portugal e a embaixada [em Díli] não tem meios para isso”, reconheceu o Presidente timorense.
“Então, frustrados e com promessa de manipulação de elementos agiotas em Timor, compram bilhetes excessivamente caros” para Portugal, com empréstimos “a juros de 100%”, na esperança de “encontrar emprego” ou regularizar a situação de modo a ir “para Inglaterra ou qualquer outro país europeu”.
“De repente, veio mais gente” para Portugal porque surgiram “pessoas em Timor-Leste, indivíduos de fora e agências de recrutamento de trabalhadores com promessas falsas” que incentivaram a partida de timorenses.
O fenómeno das migrações, defendeu Ramos-Horta, deve ser entendido num quadro mais global. “Timor-Leste ultimamente tem sido também um destino de trabalhadores, de imigrantes ilegais, do Bangladesh, Paquistão, filipinos, indonésios e chineses”, lembrou.
A chegada de alguns milhares de timorenses sem enquadramento social motivou várias ações: “por parte do Estado português, por parte das freguesias, municípios, com as nossas autoridades, em particular, a embaixada timorense em Portugal, para alojar as pessoas que querem ser alojadas”.
Depois, esses jovens “vão lentamente, gradualmente, ser integrados no mercado de trabalho em Portugal ou adquirindo a nacionalidade e o passaporte”, ficando “livres de tentar na Espanha e na Inglaterra” novas vidas.
E há casos de timorenses que “não querem ser alojados” e preferem continuar a viver ao relento ou em situações precárias. “Dizem: ‘nós saímos daqui e já não vão prestar atenção'” ao processo, explicou o Presidente.
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