O Arba’een é um dos maiores encontros religiosos do mundo, com os muçulmanos xiitas, que estão em maioria no Iraque e no Irão, a assinalarem o quadragésimo dia de luto pelo martírio do Imã Hussein, neto do Profeta Maomé e figura fundadora do xiismo.
Kerbala, onde Hussein e o seu irmão Abbas estão sepultados, é o epicentro do mundo xiita, e, após dois anos marcados pela pandemia de covid-19 e respetivas restrições fronteiriças, 21,2 milhões de peregrinos afluíram à cidade central do Iraque nos últimos dias, segundo a instituição que gere o santuário de Abbas.
Segundo as autoridades iraquianas, entre os peregrinos contavam-se cinco milhões de estrangeiros. Já de acordo com Teerão, com mais de três milhões de visitantes, os iranianos bateram este ano um recorde de participação no Arba’een.
Na esplanada que liga os mausoléus de Hussein e Abbas, os peregrinos recitaram orações, enquanto, acompanhadas por cânticos religiosos, várias procissões contornaram lentamente os dois mausoléus e a esplanada.
Os peregrinos agitaram bandeiras e faixas pretas com a imagem do imã Hussein.
Desde o derrube de Saddam Hussein, em 2003, a participação no Arba’een tem vindo a aumentar de forma constante.
“Para os xiitas iraquianos, é uma expressão da sua liberdade após anos de ditadura e, também, de orgulho na sua identidade xiita”, disse à AFP Alex Shams, estudante de doutoramento na Universidade de Chicago, especializado em xiismo político.
As comemorações deste ano decorrem em plena crise no Iraque, uma vez que, quase um ano após as eleições parlamentares de outubro de 2021, os dois principais polos da política xiita estão a lutar pela dissolução do parlamento e pela nomeação de um novo primeiro-ministro.
A crise degenerou em combates no final de agosto em Bagdade, quando apoiantes do líder político e religioso Moqtada Sadr entraram em confronto com o exército e homens do Hachd al-Shaabi, antigos paramilitares integrados em tropas regulares.
Mais de 30 seguidores de Moqtada Sadr foram mortos nesses confrontos.
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