O Ministério da Igualdade espanhol queria lançar uma campanha de incentivo às mulheres sob o mote “todos os corpos são corpos de praia”, realçando cinco mulheres de idades, fisionomias e etnias diferentes. Mas o seu propósito foi abafado pela onda de críticas que circula pelas redes sociais. Isto porque as imagens das mulheres foram usadas sem a sua autorização e foram editadas.
A primeira denuncia surgiu da modelo Nyome Nicholas-Williams, que garante que nunca foi contactada para que a sua imagem fizesse parte do cartaz. Descobriu através do Instagram: “Foi bom ver a imagem inicialmente, mas depois vi que era para uma campanha e senti-me irritada porque não me pediram para fazer parte disto”, conta ao Guardian.
Quando Nyome Nicholas-Williams tornou público o seu descontentamento, Sian Green-Lord percebeu que tinha acontecido o mesmo consigo, mas de uma forma mais grave: a modelo que afirma que a sua prótese da perna foi editada e apagada. Em comparação com a imagem original, entretanto divulgada nas redes sociais, é visível como a imagem do cartaz é editada.
A modelo já veio reagir no Instagram: “Esta foto já não representa eu a divertir-me com meus amigos… esta imagem deixa-me extremamente triste! Desde que descobri na última sexta-feira o que foi feito com a minha imagem, a minha confiança está em baixo, com a ansiedade no alto! As minhas táticas normais de automotivação falharam”, lê-se na publicação. “A minha perna não é uma envergonha! É um produto de força, resiliência e independência”.
Mas Green-Lord não foi a única: o cartaz, lançado pelo Instituto das Mulheres, integrado no Ministério da Igualdade, também modificou o corpo de Juliet Fitzpatrick, que superou o cancro da mama. A mulher denuncia que a sua imagem está “um pouco como a do Frankenstein” porque sobrepuseram o seu rosto ao corpo de outra mulher que também fez mastectomia.
“O rosto é uma reminiscência de mim, mas este não é o meu corpo. Eu não tenho seios, e este [o do cartaz] tem um seio. A memória de o meu rosto estar num corpo de uma mulher com um seio é bastante perturbador”, conta Juliet Fitzpatrick ao mesmo jornal. A mulher fez duas mastectomias, uma em março de 2017 e outra em novembro de 2018 e, desde então, é um dos rostos das mulheres que tiveram de retirar o peito na sequência de um cancro da mama.
Em resposta, o artista que responde pela Arte Mapache, responsável pela produção do cartaz, emitiu um pedido público de desculpas por usar as imagens das mulheres sem sua permissão e por usar um tipo de letra que achava ser gratuito. “Dada a – justificada – polémica sobre os direitos de imagem na ilustração, decidi que a melhor maneira de reparar os danos que podem ter resultado das minhas ações é dividir o dinheiro que recebi pelo trabalho e dar partes iguais às modelos do cartaz”, disse o artista.