Desde sexta-feira, 24, que metade dos Estados Unidos e o resto do mundo civilizado estão em choque. A lei saída do caso Roe vs. Wade, aprovada há 49 anos, que estabeleceu o direito ao aborto até aos três meses, foi anulada por um coletivo de juízes conservadores do Supremo Tribunal, alegando que tal direito não está previsto na Constituição.
A partir de agora, e ao abrigo desta decisão, todos os 50 estados podem proibi-lo – o Missouri foi o primeiro a avançar com esse retrocesso de quase meio século, minutos após a decisão do Supremo. Prevê-se que outros 25 sigam esse exemplo e se juntem aos países que ainda restringem o direito ao aborto, como a Polónia, El Salvador e Nicarágua.
Como metade dos americanos defende a despenalização, com especial enfoque nos democratas, o assunto está a incendiar as ruas – já houve várias manifestações de repúdio – e, claro, as redes sociais. Se de um lado, os movimentos pró-vida se regozijam com esta proibição, os pró-escolha preferem expor ao mundo as razões óbvias para se recorrer a um aborto, como uma gravidez ectópica ou em casos de violação.
Apoios gritados nas redes sociais
Por todo o lado, estão a nascer redes de apoio a mulheres que precisem de recorrer a esta intervenção (ou até mesmo ter acesso a meios de contraceção), oferecendo casas e acompanhamento a todas as que tenham de deslocar-se de suas casas para Estados em que tudo vai manter-se como dantes.
Apesar dessas ofertas espontâneas, os movimentos mais estruturados incitam a que se apoie a NAAF, a National Abortion Federation, que tem servido para unir, representar e apoiar todo o processo, sempre com o bem-estar das pacientes no horizonte.
Alguns advogados estaduais estão também a trabalhar para criar um Fundo de Apoio ao Aborto para ajudar a cobrir os custos logísticos das viagens, que incluem, pelo menos, transporte e alojamento. Ao mesmo tempo, voluntários estão a treinar pessoas para que se dediquem a encontrar clínicas fiáveis, que pratiquem preços justos, sítios seguros para ficar e estejam disponíveis para apoiar as mulheres desde a chegada até ao regresso a suas casas.
Neste momento, as movimentações mais intensas acontecem na Califórnia e em Nova Iorque, estados democratas e em que se prevê haja uma corrida a clínicas legais por parte de mulheres que vivam em partes do país em que um aborto passe a ser proibido.
Simultaneamente, e também nas principais redes sociais, as mulheres estão a ser aconselhadas a apagar as apps que acompanham o ciclo menstrual, porque o rasto digital que deixam com essas informações pode vir a servir de prova para a possível penalização de um aborto.
Também há apoios oficiais
Oficialmente, os líderes democratas já vieram expor o seu repúdio à decisão e garantir que os direitos das mulheres vão continuar intactos. Por exemplo, na Costa Oeste, os governadores da Califórnia, Washington e Oregon firmaram um “compromisso multiestado” para defender pacientes e prestadores de serviços.
Do lado do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden surgiu, de imediato, a promessa proteger o direito das mulheres a viajarem para um estado próximo que lhes permita o aborto e o acesso a medicação e contraceção. Entretanto, deixou uma espécie de ameaça: “Isto não acabou.”