O Projeto de Adaptação e Resiliência do Setor Florestal em Cabo Verde (Reflor-CV), orçado em cinco milhões de euros e que envolveu centenas de pessoas e pequenos agricultores nas ilhas de Santiago, Fogo e Boa Vista encerrou a atividade em 30 de abril e o balanço foi apresentado hoje pelos promotores, na cidade da Praia.
“Este não é apenas um projeto, é uma promessa de futuro. O Reflor-CV corresponde a uma reinicialização do setor florestal no século 21, enquadrada e alavancada pelo desenvolvimento limpo, pela gestão sustentável dos recursos naturais renováveis e pela ação climática de Cabo Verde e do mundo”, afirmou Ana Touza, representante em Cabo Verde da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), na sessão de encerramento do projeto.
O Reflor-CV é um projeto do Governo de Cabo Verde, executado através do Ministério da Agricultura e Ambiente, com financiamento da União Europeia em quase 4,9 milhões de euros e cofinanciamento da FAO, que também o implementou no terreno, em 255.482 euros, visando o aumento da adaptação e resiliência do setor florestal no país.
“O Reflor-CV serve de ponto de partida a uma governança transversal com soluções baseadas na natureza”, sublinhou a representante da FAO, acrescentando que as medidas implementadas pelo projeto – que permitiu ainda aprovar a revisão da lei florestal de Cabo Verde e desenvolver os planos de gestão florestal e de prevenção de incêndios – “contribuíram para uma nova visão da floresta” no arquipélago, afetado há mais de três anos por uma prolongada seca.
“Resiliente, sustentável, gerida e monitorizada, próspera e valorizada, partilhada e inclusiva, com comunidades conscientes, com governança eficiente e eficaz”, afirmou Ana Touza.
De acordo com os dados hoje apresentados, no encerramento formal do projeto, o Reflor-CV permitiu “aumentar as áreas arborizadas e vegetadas” nas três ilhas, com mais de 32.000 plantas fruteiras, 105.000 endémicas, 108.000 florestais e mais de 33.000 forrageiras com uma taxa média de sobrevivência, devido à seca, de cerca de 60%.
Além das três ilhas como alvo principal do projeto, num total de oito foram ainda instaladas 14 estações meteorológicas para recolha de dados em tempo de real, com a representante da FAO a defender a necessidade de alargar, no futuro, o Reflor-CV a todo o arquipélago: “Para que Cabo Verde seja ainda mais verde”.
A embaixadora da União Europeia na Praia, Carla Grijó, recordou que a floresta em Cabo Verde tem sido afetada pela condição humana nos últimos anos, até ao cenário atual, em que 85% do território do arquipélago são áreas secas e 10% terrenos aráveis.
“Sabemos que, tal como sucede com os restantes pequenos países insulares em desenvolvimento, a contribuição de Cabo Verde para o aquecimento global é praticamente insignificante. No entanto, o país é particularmente às alterações climáticas e aos seus impactos, incluindo o agudizar de fenómenos como as secas”, reconheceu Carla Grijó, elogiando, neste projeto, a “perspetiva de género” do trabalho do projeto no terreno, com as comunidades e com as mulheres.
Para o primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, o projeto “é um sucesso”, pelos resultados e pelo contexto, porque foi implementado precisamente num “contexto de seca severa” no país.
“Um volume de investimentos, importante, estamos a falar de cinco milhões de euros, que estão devidamente com retorno”, reconheceu o chefe do Governo, acrescentando: “Para podermos estar neste momento a congratular e a pedir mais, continuar nesta senda, porque estamos a falar de uma área em que Cabo Verde coloca o seu foco”.
Segundo os promotores do projeto, o Reflor-CV permitiu ainda aumentar a infiltração para recuperação de lençóis freáticos em cerca de 1.050 hectares, fomentar negócios locais baseados em produtos florestais lenhosos e não lenhosos “com participação maioritária das mulheres” e o empoderamento de 24 comunidades rurais com atividades geradoras de rendimento sustentável, envolvendo “cerca de 300 atores, entre técnicos institucionais, elementos de Organizações Não-Governamentais, empresas, e cidadãos individuais, no processo participativo de construção dos instrumentos jurídicos e de planeamento e gestão dos sistemas florestais de Cabo Verde”.
Ao longo dos quatros ano do projeto “foram capacitados um total de 900 homens e 600 mulheres das comunidades beneficiárias”, através de atividades de produção e fixação de plantas e obras de conservação de solo e água. Os promotores sublinham ainda que, enquadrado na estratégia nacional de redução de risco de desastres, o Reflor-CV contribuiu para reduzir os riscos de erosão e enxurradas através de obras de conservação dos solos e plantação em zonas muito inclinadas, em cerca de 1.000 hectares.
PVJ // PJA